Na guerra de Duterte contra as drogas são mortas 36 pessoas por dia
Nas sete semanas de presidência de Rodrigo Duterte, já foram mortos 1916 filipinos na sua campanha de erradicação das drogas.
O Presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte, tomou posse há sete semanas, e desde então já foram mortas 1916 pessoas no âmbito da sua prometida guerra para erradicar as drogas do país. Feitas as contas, são 36 mortes por dia – de toxicodependentes e alegados traficantes, tanto às mãos da polícia como de cidadãos organizados em grupos de vigilantes.
Estes números foram avançados pelo chefe da polícia nacional das Filipinas, Ronald dela Rosa, num depoimento no Senado para explicar o aumento “inédito” e “sem precedentes” do número de suspeitos mortos pelas autoridades nos últimos dois meses.
Dela Rosa declarou que 750 mortes ocorreram na sequência de operações policiais e garantiu que as restantes, presumivelmente da responsabilidade de vigilantes, estão a ser investigadas. “Nem todas as mortes sob investigação estão relacionadas com drogas”, precisou à Reuters, acrescentando que cerca de 40 dos casos registados tinham que ver com assaltos ou conflitos pessoais.
O inquérito do Senado está a ser conduzido pela senadora Leila de Lima, uma crítica do Presidente, que já anunciou ter chamado também vários familiares de vítimas para depor, dando-lhes assim uma oportunidade para contarem as suas histórias.
Um desses relatos foi feito por Harra Besorio, que contou como a polícia invadiu a sua casa, na cidade de Pasay, sem dispor de mandado e iniciou buscas que passaram por despir a sua filha menor para verificar se tinha droga escondida. O marido de Besorio — que ela admitiu ser traficante — e o pai dele foram espancados à sua frente, revelou. Mais tarde, ambos foram levados para a esquadra da polícia, onde foram mortos.
O envolvimento de polícias no tráfico de droga é frequentemente denunciado pelo Presidente Rodrigo Duterte nos seus discursos. No Senado, Ronald dela Rosa disse que já foram identificados 300 agentes suspeitos de actividades criminosas: estarão a ser investigados e, segundo o chefe da polícia, serão expulsos e detidos se forem declarados culpados.
Segundo a Reuters, o senador filipino Frank Drilon referiu-se ao número de suspeitos mortos como “alarmante”, mas concedeu que tem um “efeito inibidor”. Dela Rosa assegurou que cerca de 700 mil toxicodependentes se entregaram às autoridades desde o arranque da campanha lançada pelo Presidente filipino e afirmou que a criminalidade no país está em queda, com a excepção dos homicídios. “Admito que muitos estão a morrer, mas a nossa campanha agora está a ganhar impulso”, observou Dela Rosa, desmentindo que exista uma orientação política para a polícia matar traficantes ou toxicodependentes.
Os Estados Unidos emitiram uma nota de “profunda preocupação” com o aumento das mortes de suspeitos de crimes relacionados com drogas, e a Organização das Nações Unidas apelaram ao fim das execuções extrajudiciais nas Filipinas. Na resposta, o Presidente filipino ameaçou abandonar a ONU: “Talvez decida abandonar as Nações Unidas. Se vocês me faltarem ao respeito, filhos da p…, eu deixo-vos”, garantiu Duterte, em conferência de imprensa. No dia seguinte, Perfecto Yasay, ministro dos Negócios Estrangeiros filipino, pediu desculpa e desmentiu essa intenção.
A popularidade de Rodrigo Duterte tem muito a ver com a sua campanha focada no combate às drogas. O Presidente filipino já encorajou os cidadãos do seu país a matar toxicodependentes e traficantes de drogas, e defendeu ainda que a polícia podia legalmente matar suspeitos, alegando autodefesa.