MAAT - o novo museu da EDP entre a arte e a arquitectura, uma fase de cada vez
Programação do novo Museu de Arte, Arquitectura e Tecnologia (MAAT) abre esta quinta-feira com quatro novas exposições antes da inauguração faseada do novo edifício, entre Outubro próximo e Março de 2017. Primeira exposição temática da Colecção EDP é um dos focos.
Um novo museu abre esta quinta-feira ao público, no coração de um antigo museu e enquanto se prepara para ganhar uma nova casa em Lisboa. Esta matriosca são as várias fases de abertura do Museu de Arte, Arquitectura e Tecnologia (MAAT), que se estreia com duas exposições de artistas portugueses e o design a lidar com a constatação de que a luz, hoje, já não tem forma. Tudo acontece na Central Tejo, antigo Museu da Electricidade com circuito renovado, à espera do término do seu edifício vizinho que lhe vai dar mais espaço, e corpo.
Não é só fora da Central Tejo, ao lado da qual será parcialmente inaugurado, a 5 de Outubro, o sinuoso edifício ribeirinho projectado por Amanda Levete, que há obras em curso. As quatro mostras estão a ser ultimadas e o edifício, que sofreu obras de renovação, está ainda a ser maquilhado para a reabertura ao público com videoarte na Sala das Caldeiras e uma Lightopia vinda do Vitra Museum.
Assim começa a programação do MAAT, a partir de agora com entrada a 5 euros até à abertura integral do museu, com os seus dois espaços – a Central e o novo edifício, cujo projecto inicialmente gerou polémica e acabou por ser revisto – a funcionar em pleno por um preço a rondar os dez euros, anunciaram Miguel Coutinho, director-geral da Fundação EDP, e Pedro Gadanho, director do museu.
O novo museu português quis “começar já, para mostrar o que vai ser o tipo de exposições que propõe", disse Gadanho aos jornalistas, na terça-feira. Este é um “museu interdisciplinar, principalmente focado na arte contemporânea”, e muito na Colecção EDP, cerca de mil peças de arte portuguesa criadas desde os anos 1960.
Para a programação, o MAAT conta com dois milhões de euros anuais, e "é uma das poucas instituições que faz aquisições regulares" para a sua colecção, realça Gadanho.
Depois de três anos no Museum of Modern Art de Nova Iorque como curador de Arquitectura Contemporânea, Pedro Gadanho considera que um dos objectivos que o museu que agora dirige vai perseguir no panorama português é não só aumentar o espaço expositivo para os artistas contemporâneos do país, como apostar na parceria com instituições internacionais. “Ter exposições que estavam fora e que não vinham a Portugal”, como The World of Charles and Ray Eames (inicialmente prevista para Outubro, mas já reagendada para Março), que “nunca viria a Portugal se não fôssemos nós a trazê-los”, diz o arquitecto ao PÚBLICO.
E Gadanho manifesta também o desejo de que os restantes museus portugueses dedicados à arte contemporânea "continuem no activo e o mais pujantes possível, porque o ecossistema tem de ser o mais rico possível", quando questionado pelo PÚBLICO sobre eventuais lacunas que o MAAT pretenderia colmatar – no início da semana, o director do museu tinha dito ao Observador que os museus dedicados à arte contemporânea em Portugal "estão a perder gás".
A colecção EDP vai ser mostrada em exposições temáticas regulares – o museu prevê 18 ou 19 mostras por ano, entre as suas duas casas e, em 2018, uma delas focar-se-á na Colecção Pedro Cabrita Reis (comprada este ano pela fundação).
Para já, há Segunda Natureza, ou a “Colecção EDP apresentada pela primeira vez em Lisboa com um olhar temático”, como explicou a co-comissária (com Gadanho) Luísa Especial. Junta Gabriela Albergaria, Alberto Carneiro, Vasco Araújo, Alexandre Estrela, Valter Vinagre ou Julião Sarmento numa reflexão sobre o impacto humano no meio e na natureza. Gadanho adianta que está a ser estudada a ida ao Brasil desta exposição.
No circuito Central Eléctrica, que era o cerne do Museu da Electricidade, conviverão agora novas linguagens com o património industrial. Lá pendem ecrãs e piscam televisores da mostra Artists Film International, comissariada por Inês Grosso, que inaugura o desejo de “ter sempre intervenções de filme e vídeo” na sala onde, em Dezembro, ficará uma exposição comissariada por Alexandre Melo em que os cineastas Apichatpong Weerasethakul e Joaquim Sapinho farão um diálogo de filmes curtos que estão a produzir.
Ainda no reino da imagem, Sérgio Mah comissaria Edgar Martins. Silóquios e Solilóquios sobre a Morte, a Vida e Outros Interlúdios, que mostra até Outubro o resultado de uma investigação de três anos no Instituto de Medicina Legal.
Arquitectura e arte
A arquitectura está no nome do MAAT e o novo edifício do museu inaugura-se no Dia Mundial da Arquitectura – 5 de Outubro. Mas, para já, ela não está na programação da primeira fase. Estará sim no que Gadanho classifica como “exposições-manifesto”, bandeiras do que quer que o museu seja, já com ecos em Utopia/Distopia (que, em Outubro, despontará com a instalação de Dominique Gonzalez-Foerster concebida para o átrio do MAAT, e depois com exposição completa em Março de 2017), ou na sua colaboração com a Trienal de Arquitectura – o MAAT acolherá uma das exposições no Outono.
E quando, um museu para a arquitectura portuguesa?
Implantado em Belém, o MAAT está também de olho nos vizinhos. O director do museu inscreve-o numa zona com “um destino vocacional” estratégico para o chamamento de públicos e quer abordar a arquitectura no museu numa óptica de diálogo, mediação e reflexo. “Como através da arte se fazem leituras sobre a arquitectura, sobre a cidade”, exemplifica, voltando a Belém. E defende que o facto de “aqui ao lado haver uma sala permanentemente dedicada à arquitectura”, a Garagem Sul do Centro Cultural de Belém, corrobora essa opção no âmbito da oferta museológica.
Em 2017, o MAAT trará Artistes et Architecture, Dimensions variables do Pavillon de l’Arsenal, em Paris, que foca “o modo como os artistas olham para a arquitectura”, desafiando-a. Em 2018, haverá Ecovisionários, ainda em discussão “com o MAXXI de Roma, com uma instituição da Nova Zelândia e com o Bild Museet de Estocolmo”, que envolverá também artistas e arquitectos.
Entretanto, o que parecem velas suspensas tremeluzem no espaço que mostra Lightopia. É um momento da primeira exposição internacional que o MAAT traz a Portugal – vem do Vitra Design Museum, conhecido pelo seu riquíssimo espólio de design de mobiliário (mais de sete mil peças), e que, numa parceria com a Fundação EDP, se debruçou em 2013 sobre um núcleo recente de light design.
A comissária Jolanthe Kugler começou a reflectir sobre o processo revolucionário em curso da luz. “A lâmpada clássica foi banida, e tudo é LED” hoje em dia. “Já não tem forma” única. As velas são, afinal, tiras com LED tremelicantes. “Se não se desenha um candeeiro, o que se faz com a luz?”, pergunta Kugler, junto ao mapa do mundo azul que brilha – mas só em algumas cidades e países: são as zonas do mundo mais ricas e, por isso, mais iluminadas.