Missão militar da França contra jihadistas estende-se à Líbia
Durante uma visita surpresa ao porta-aviões Charles de Gaulle, o Presidente François Hollande confirmou a realização de voos de reconhecimento e vigilância sobre a região de Sirte, dominada pelos jihadistas.
O Presidente de França, François Hollande, esteve esta sexta-feira na rampa de lançamento das operações de guerra contra o grupo autodenominado Estado Islâmico (EI), a bordo do porta-aviões Charles de Gaulle, no Mediterrâneo oriental – de onde saem os caças gauleses, Rafale e Super Etendard, que já largaram mais de 600 bombas sobre alvos identificados com o grupo jihadista.
Mas a novidade revelada em pleno Mediterrâneo é que a intervenção também já se estendeu à Líbia, nomeadamente na região de Sirte e Tobruk, sob o domínio dos jihadistas. "Trata-se de uma primeira fase de operações, que consiste em voos de reconhecimento e vigilância", precisou um comunicado enviado pela presidência francesa. A iniciativa, acrescenta a nota, procura conter o avanço do EI, que tem sabido aproveitar a situação caótica na Líbia para ganhar território.
Hollande, que na noite de 13 de Novembro se tornou o chefe de um país em guerra, informou os marinheiros e pilotos a bordo do Charles de Gaulle que "dentro de alguns dias, conhecerão uma nova zona de destacamento no Golfo, onde assumirão responsabilidades de comando, no quadro da coligação" de forças internacionais que participa na missão contra a organização terrorista. "A missão vai prolongar-se até Março", disse o Presidente.
Não existe exactamente uma "frente de combate" no que diz respeito às acções militares dos aliados ocidentais. França, tal como os Estados Unidos, o Reino Unido ou a Alemanha (cujo Parlamento deu esta sexta-feira luz verde à entrada na coligação, embora sem participar nos bombardeamentos), cederam as movimentações no terreno aos grupos armados da oposição síria e comprometeram-se a manter as suas tropas fora do território reclamado como califado pelos extremistas. O palácio do Eliseu disse que a missão na Síria tem como objectivo a destruição das capacidades logísticas e dos centros de treino dos militantes do EI, enquanto no Iraque se trata de garantir o apoio aéreo às forças do exército nacional.
Segundo o jornal Le Monde, a grande maioria dos 680 bombardeamentos no âmbito da chamada operação "Chammal", o nome da campanha militar francesa contra o Estado Islâmico que arrancou em Setembro de 2014, decorreu este ano. Os ataques intensificaram-se nas últimas três semanas, depois dos atentados em Paris, reivindicados pelos jihadistas: foram centenas de voos de reconhecimento, bombardeamentos planeados e acções "de oportunidade" em território sírio. "Todas as 120 saídas de combate realizadas desde então foram bem sucedidas", disse o Presidente francês.
Além da campanha militar contra o Daesh (a designação pejorativa que é utilizada pelos árabes e pelos franceses para o Estado Islâmico), o Governo francês aprovou uma série de medidas excepcionais em nome do combate ao terrorismo a nível interno. Ao abrigo do estado de emergência nacional, em vigor até Fevereiro, as autoridades já efectuaram mais de duas mil buscas sem mandado judicial, nas quais foram detidas 210 pessoas e apreendidas mais de 300 armas de fogo. Esta semana, foram encerradas três mesquitas salafistas; para conter os radicais, o Executivo prepara-se para retirar a nacionalidade francesa aos suspeitos de terrorismo que tenham passaporte de outro país.
A deriva securitária do executivo socialista tem sido criticada por sectores políticos mais à esquerda, mas merece a aprovação da população francesa. Aliás, a resposta aos atentados de Paris mudou completamente a apreciação do trabalho do Presidente: Hollande, que no início de Novembro se debatia com uma taxa de popularidade de apenas 28%, merece agora o apoio de 50% dos franceses, que dizem confiar nele para defender os interesses do país (segundo os números do instituto de sondagens Ifop).