Caças britânicos atacaram jihadistas na Síria mal houve luz verde do Parlamento

Moção do Governo foi aprovada por larga maioria num debate que dividiu os trabalhistas. Londres anuncia ter atacado o principal campo petrolífero em poder do Estado Islâmico

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Um dos caças estacionados em Chipre regressa à base após missão na Síria Darren Staples/Reuters

Ainda os deputados estariam a abandonar Westminster quando os primeiros Tornado descolaram da base aérea de Akrotiri, em Chipre, para atacar seis alvos no campo petrolífero de Omar, o maior da Síria, e desferir, nas palavras do ministro da Defesa britânico, “um duro golpe” numa das principais fontes de financiamento do Estado Islâmico. Mais do que o impacto nas capacidades militares da coligação liderada pelos Estados Unidos, a entrada do Reino Unido na já sobrelotada ofensiva aérea contra os jihadistas na Síria é uma vitória política e diplomática para o Governo de David Cameron.

A rapidez com que os quatro caças foram colocados no ar mostra a pressa que Londres tinha de se juntar ao combate contra os extremistas nos locais onde estão as suas chefias e onde afirma que são preparados ataques como o que a 13 de Dezembro matou 130 pessoas em Paris. “O que era realmente importante era confirmar que o Reino Unido é um aliado sério”, disse o ministro da Defesa Michael Fallon, à BBC, horas depois de o Parlamento ter aprovado por larga maioria – 397 votos a favor e 223 contra – a autorização para que os aviões britânicos estendam à Síria os ataques aéreos que já efectuam no Iraque desde 2014.

A votação, que o primeiro-ministro adiou até ter a certeza que a conseguia vencer, redime Cameron da humilhação que sofreu em 2013 quando o Parlamento recusou a participação do país na ofensiva que os Estados Unidos planeavam contra o regime de Bashar al-Assad, em retaliação pelo uso de armas químicas. A operação não se concretizou, mas desde então tem sido a França o primeiro país europeu a alinhar com as iniciativas militares de Washington, e o governo britânico acabou remetido para um papel secundário quando, em 2014, Paris e Berlim, lideraram a resposta europeia à crise na Ucrânia.

Depois dos atentados em França, o líder conservador insistiu que o país não podia ficar de braços cruzados perante a agressão ao país aliado, sobretudo quando este pediu a solidariedade aos parceiros europeus, e assegurou que o Reino Unido “surge já no topo da lista” de potenciais alvos dos jihadistas. Quarta-feira, 66 deputados trabalhistas (quase um terço da bancada) deram-lhe razão, votando a favor da moção do Governo depois de o líder do partido, Jeremy Corbyn, ter sido forçado a dar-lhes liberdade de voto.

“Estamos a ser confrontados por fascistas. Que usam não apenas a brutalidade de forma calculada, mas que acreditam que são superiores a cada um de nós nesta câmara e às pessoas que representamos”, disse Hillary Benn, porta-voz do Labour para os Negócios Estrangeiros e um dos 11 membros do “governo-sombra” que se rebelaram contra o recém-eleito líder e a sua oposição aos ataques. O discurso foi muito aplaudido e Benn, filho de um histórico dirigente da ala esquerda dos trabalhistas, foi saudado na imprensa desta quinta-feira como um potencial rival de Corbyn em futuras eleições. Mas o deputado foi também um dos principais alvos da fúria de activistas e militantes de base que nos últimos dias pressionaram os parlamentares a votar contra a guerra, mesmo depois de o líder trabalhista os ter desautorizado.

A clara maioria no Parlamento não esconde que os britânicos, com a invasão do Iraque viva na memória, se dividem quanto ao envolvimento numa guerra que o próprio Governo reconhece que “pode durar anos” – uma sondagem divulgada quarta-feira revela que 48% dos inquiridos apoia os ataques na Síria, uma descida de 11% percentuais em relação à semana anterior.

Londres afirma também que os seus mísseis de elevada precisão Brimstone farão a diferença quando o objectivo é atingir estruturas dos jihadistas em zonas urbanas com o mínimo de risco para os civis. E Fallon anunciou a partida de mais oito caças para Chipre, o que duplicará a capacidade de ataque britânica. “A participação [do Reino Unido] nos ataques é simbolicamente importante e será útil em termos operacionais, mas não vai mudar o rumo da guerra”, assegurou à AFP Marlcom Chalmers, director do think-tank Royal United Services Institute.

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