Especialistas dizem que aquecimento global está novamente a acelerar
Agência britânica de meteorologia antecipa que 2015 e 2016 poderão ser os anos mais quentes desde que há registos fiáveis.
Apesar de a atmosfera conter cada vez mais dióxido de carbono (CO2) – o principal vilão das alterações climáticas –, o aquecimento acelerado que se observava pelo menos desde os anos 1970 estabilizou a partir de 2000. Não há ainda explicações definitivas para esta aparente contradição, mas uma das hipóteses é a de que parte do calor está a ser acumulada em camadas profundas do oceano.
Alterações cíclicas nas condições climáticas podem, no entanto, estar a colocar os termómetros novamente numa tendência crescente. A principal tem a ver com o El Niño, uma alteração periódica nos ventos e correntes do Pacífico, com consequências climáticas globais e regionais, como secas na América Latina e tempestades na Austrália e no sudeste asiático. “O El Niño está em curso e tem vindo a aumentar em força”, diz um relatório do Metoffice divulgado esta segunda-feira.
A evolução, dizem os climatologistas britânicos, é similar à do El Niño de 1997-1998, que provocou na altura um acentuado aumento da temperatura global. A Organização Meteorológica Mundial já tinha alertado, no princípio deste mês, que o El Niño deste ano deverá estar entre os quatro mais intensos desde 1950.
O que vai acontecer aos termómetros dependerá também do comportamento de outras condições climáticas nos oceanos, que se alteram no espaço de décadas. O Pacífico, que tem estado numa fase negativa, com temperaturas mais baixas, parece estar a entrar numa fase positiva, mais quente. No Atlântico, está a acontecer o contrário: depois de quase duas décadas de fase positiva, é possível que se inicie agora uma fase negativa.
Tudo indica, no entanto, que 2015 pode vir ser tão ou mais quente do que 2014. Entre Janeiro e Julho, a temperatura global situou-se 0,85oC acima da média do século XX, segundo a agência norte-americana para a atmosfera e os oceanos, a NOAA. É o maior valor até agora registado para este período.
“Apesar de não podermos dizer com certeza que a desaceleração no aquecimento global terminou, as temperaturas globais estão novamente a crescer”, afirma o investigador Adam Scaife, do Metoffice, num comunicado.
Como os efeitos do El Niño na temperatura global ocorrem com uma hiato de alguns meses, os especialistas acreditam que 2016 será igualmente quente.