Porto Editora compra Livros do Brasil e relança marca com Eça e novo grafismo
A publicação de obras de Eça de Queiroz e a republicação de obras da colecção Dois Mundos com novo grafismo e traduções revistas são os primeiros lançamentos. Segue-se a colecção Vampiro.
À pergunta do PÚBLICO sobre se este foi um bom negócio, Vasco Teixeira, administrador da editora, respondeu que em termos de negócio “foi relativamente pequeno mas fácil de se fazer”. Isto por causa das relações entre as duas empresas, que por coincidência até foram fundadas no mesmo ano, 1944, e são ambas de origem familiar. “O acordo entre as duas empresas é no sentido de dar nova vida a algo que estava um pouco parado no tempo, uma pena, pois a Livros do Brasil tinha obras muito interessantes. Algumas foi perdendo ao longo dos anos, como o caso dos direitos de Agatha Christie, que foram para a Asa da LeYa”.
Foi a Livros do Brasil que os abordou com a proposta. “Ficamos muito orgulhosos de ter no nosso catálogo o Ernest Hemingway, John Steinbeck, Anne Frank, as edições mais reputadas do Eça... São valores a que damos importância e gostamos de preservar”, conclui Vasco Teixeira.
“A Livros do Brasil é um selo icónico”, considera o director editorial da Porto Editora, Manuel Alberto Valente, que será também o editor desta chancela, em colaboração com Vasco David, editor da Assírio & Alvim, e João Rodrigues, editor da Sextante. “Foi através dele que várias gerações de portugueses tomaram contacto com grandes nomes da literatura universal do século XX”, diz, acrescentando que prevêem a reedição já a partir destas primeiras semanas de 2015 de livros de autores como Ernest Hemingway, André Malraux, John Steinbeck e Anne Frank. “As traduções ou serão aproveitadas, sujeitas a uma apertada e rigorosíssima revisão, porque algumas não são más mas têm pontos fracos que foi necessário corrigir. Noutros casos haverá traduções novas”, acrescentou.
Durante a sessão da apresentação das novidades do grupo para 2015 que decorreu esta quarta-feira no Museu das Comunicações, em Lisboa, Manuel Alberto Valente divulgou as três as grandes linhas que querem desenvolver na Livros do Brasil. “Uma delas é a publicação das obras completas de Eça de Queiroz, já que as edições da Livros do Brasil são consideradas as mais prestigiadas por causa da fixação de texto ser da grande senhora da filologia e do estudo do Eça, Helena Cidade Moura”, explicou. Nas livrarias, nesta nova versão da Porto Editora, está já a obra Os Maias. Estas edições que acompanharam gerações são, segundo o editor, “aquelas que mais vendem no mercado e as mais recomendadas no plano escolar”. Cuidaram de “um modo especial” da revisão desses textos e irão dar-lhe “um certo arejamento” na apresentação gráfica.
Outra das outras grandes linhas é o relançamento com novo aspecto gráfico da colecção “icónica da Livros do Brasil, a colecção Dois Mundos”. Recuperaram - “embora de uma maneira mais moderna o antigo grafismo da colecção” (o trabalho é do atelier do Jorge Silva) – onde estão a lançar livros de velhos autores da colecção mas também irão lançar autores novos. “No mês de Maio vai sair All That Is, do norte-americano James Salter, que foi considerado em França o melhor romance estrangeiro publicado em 2014 e que tem sido um sucesso internacional”, revela o editor.
Mais tarde, irão recuperar a colecção de livros de bolso Vampiro. Terá também uma nova apresentação gráfica, toda ela recuperando a linha vintage que caracterizava o período áureo da colecção. “Será uma colecção policial de bolso a um preço barato, abaixo de dez euros”, onde republicarão os grandes autores clássicos do policial que deram a fama e o prestígio da colecção, mas também novos autores que consideram ter qualidade. A vertente de ficção científica (colecção Argonauta), para já, não está englobada neste projecto de republicação e a parte do catálogo relativa a autores brasileiros também não.
A pequenez da dimensão
Nos últimos treze anos, o grupo Porto Editora comprou seis editoras e em 2013 teve vendas no valor de 150 milhões de euros e lucros de 16,2 milhões, segundo divulgou na quinta-feira ao Jornal de Negócios o administrador Vasco Teixeira. O CEO, que não adiantou os valores de 2014 ao PÚBLICO, não tem medo que o seu grupo se esteja a tornar um gigante. “Nós, grupo Porto Editora, somos mais pequenos do que os principais grupos espanhóis. Em termos internacionais quase não temos dimensão para trabalhar internacionalmente. Esse aliás é um dos problemas de Portugal. É difícil para um país pequeno ter grupos que se consigam internacionalizar. Estamos a tentar fazê-lo dando prioridade aos PALOP e aos países que estão em construção, onde é mais seguro e mais fácil acrescentar valor. Para isso temos de ter dimensão e de ser fortes”, diz.
Por isso, explica ao PÚBLICO, como aposta “a longo prazo” o grupo Porto Editora entrou o ano passado em Timor Leste com a Plural Timor Leste, depois de, em 2002, ter criado a Plural Moçambique e, em 2005, a Plural Angola. “Estamos a tentar replicar em Timor a estratégia que usámos em Moçambique e em Angola e que consideramos bem-sucedida.” Para além da distribuição dos livros portugueses do grupo, fazem edições locais ou mistas – no caso do sistema educativo muitas vezes acontece trabalharem com portugueses e locais – e aos poucos querem ir fazendo edições gerais de editores locais. A ideia é “ir construindo uma editora local com know-how e capacidade internacional”, explica Vasco Teixeira.
“As mudanças na edição têm motivado movimentos de concentração importantes que os especialistas mundiais dizem que vão continuar. Veja-se o caso da fusão da Penguin Random House (e já há uma Penguin Random House Portugal), veja-se o caso da HarperCollins que já está também a actuar directamente em mais de uma trintena de países”, explica o administrador. “As grandes editoras internacionais estão a tomar decisões fortes numa série de países. Não é muito visível ainda em Portugal porque somos um mercado pequeno e não tão apetecível para essas editoras, mas quem não tiver capacidade vai ficar em dificuldades no futuro e com o crescimento previsível do digital ainda mais”, alerta.
“Hoje em dia já ninguém acredita que o livro em papel vá desaparecer, mas ninguém sabe o que acontecerá daqui a cinco anos: quanto se vai vender. Vai ser diferente de país para país, de mercado para mercado e de um tipo de livros para outro.”