Ao menos isto: se a ideia é explorar - e prolongar - um “best seller”, é mil vezes preferível que a tarefa vá parar às mãos de um Fincher do que de um Ron Howard. E mesmo se se percebe que Fincher assumiu compenetradamente a função de ilustrador de luxo, sem muita margem para arriscar “desfigurar” a matéria-prima que lhe puseram nas mãos, teve arte suficiente para não abdicar por completo de uma idiossincrasia e de um sentido do estilo, um barroquismo gélido e misantropo, porventura mais “fincheriano” do que “sueco”, que vale o filme muito para lá dos mistérios e “frissons” da narrativa. Nem que seja superficialmente (portanto, e literalmente, pela superfície), reconhece-se mais aqui a medula de Fincher do que nos seus últimos filmes, os tão equívocos “A Rede Social” e “Benjamin Button”. Isto dito, “Millenium” fica longe do efeito provocado pelo melhor Fincher, o de “Seven”, de “Fight Club”, de “Zodiac”, um efeito que descreveríamos recorrendo a um muito simples discurso directo: “este filme intriga-me, quero voltar a vê-lo, é inclassificável”.
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