Medos 3D

Gostamos (muito) de Joe Dante, o mais subestimado de todos os cineastas americanos da "geração de 70", e somos dos que acham que não se pode contar a história do cinema americano dos últimos 30 anos sem incluir "The Howling" (sátira à moral sexual revanchista que os anos 80 impuseram depois dos desmandos da década anterior), ou "Gremlins" (o mais "méchant" dos filmes para público juvenil que nessa década de 80 se fizeram), ou "Gremlins 2" (com o "Last Action Hero" de McTiernan forma o único par de grandes filmes "pós-modernos" feitos na Hollywood contemporânea), ou "Small Soldiers" (perfeita paródia do moderno militarismo americano pós-guerra fria). Em qualquer circunstância, apreciamos-lhe duas qualidades raras: a malvadeza ("Gremlins 2" não se faz às criancinhas) e compulsão para morder a mão que lhe dá de comer, nunca fazendo bem o filme que os produtores (e por extensão, os espectadores, que são quem mais pensa como os produtores) estão à espera, duas qualidades que, à conta dos "flops" a que conduziram, basicamente o lixaram. Tudo isto para dizer: tínhamos imensa vontade de gostar de "Medos". Mas é fraquinho, pelo menos para os "standards" de Dante. Não há malvadeza, e o produtor não ficou, por certo, sem a mão. É história de dois irmãos, da mãe deles, da rapariga "next door", e de um buraco sem fundo que encontram na cave da casa nova para onde se mudam.Por esse buraco saiem coisas esquisitas - palhaços, uma rapariga com sangue a sair-lhe dos olhos - e vem-se a descobrir que o buraco é uma fábrica de "terror psicanalítico": põe cá fora a materialização dos maiores medos das personagens. A partir daqui, e sobretudo na história do irmão mais velho, o "terror psicanalítico" volve-se em "aventura onírica", ou pelo menos simbólica (a figura do Pai - ausente como na equivalente "suburbia" dos anos 80, nos filmes de Spielberg, Zemeckis ou do próprio Dante), e em narrativa de "coming of age". Tudo correcto, tudo previsível. Fora uns apartes tão rápidos que parecem clandestinos (a miuda a ler a Divina Comédia: Dante vs Dante...), "Medos" segue os códigos de género sem se virar contra eles. Um filme de terror para toda a família, que podia passar (e de certeza que há-de passar) numa tarde dominical de televisão sem chocar ninguém. E quem é que se entusiasma com isso?

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