Gary Ross, o realizador de "Seabiscuit", é filho de Arthur A. Ross, que foi argumentista de (entre outros) "The Creature from the Black Lagoon" (1954) e uma das vítimas da Caça às Bruxas, nos anos 50. Este pedaço de biografia só é relevante porque o filho, Gary, já disse numa entrevista que a sua carreira como realizador (até agora "Pleasantville", de 1998, e "Seabiscuit") tem sido um projecto de "reconciliação" - mais explicitamente: de validação de uma ideia de América, mítica, e dos seus valores, forma de sarar as feridas. Vejam só a história (verídica) de "Seabiscuit": em plena Depressão, os pobres da América (e também os ricos, hipótese de igualdade...) reviam-se nos esforçados feitos nas pistas de um débil e fraco cavalo. A América por um cavalo, então: ferida, orfã, mas finalmente vencedora. É um pedaço de patriotismo, portanto, e desde o primeiro plano, quando as personagens nos são apresentadas, ficamos logo a saber qual a função simbólica que vão cumprir (o jóquei interpretado por Tobey Maguire vai ser, é claro, o "filho reencontrado" da personagem do milionário - Jeff Bridges). O problema não é a "americana" - as obras-primas do cinema clássico americano são feitas dessa comunhão espiritual, se se quiser, com uma ideia de país. O problema é o facto de "Seabiscuit" se limitar a gerir, de forma escolar, esse património.
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