Depois de nove anos de vida, o Sónar de Barcelona transformou-se no acontecimento anual de música electrónica e artes digitais mais conhecido em todo o mundo. Um dos principais méritos do evento tem sido a sua abertura ao exterior. Barcelona acolhe o Festival, mas partilha-o com agentes artísticos e público anónimo de todo o mundo. Não surpreende, por isso, que este ano a organização tenha resolvido efectuar pela primeira vez acções de divulgação do evento em quatro cidades europeias.
No passado dia 1, no contexto do Royal Festival Hall de Londres, o "Sonarsound" propôs uma projecção de "Metropolis" de Fritz Lang (com música do DJ americano de tecno, Jeff Mills) e actuações ao vivo dos Super Collider e do projecto Radio Boy, de Herbert. Na Suíça, na cidade da Expo 2002, Neuchatel, vão evoluir, a 25, os franceses The Youngsters, o alemão Matthias Schaffhauser e os suíços Earthbound e Teleform & Marcus Maeder. O programa para o festival de música clássica e contemporânea "Schleswig Holstein", na Alemanha, a 10 de Agosto, ainda não é conhecido. Finalmente, no Lux, vão actuar ao vivo Louie Austen e Vladislav Delay (Luomo), enquanto no papel de DJ evoluem Steve Cobby (Fila Brazillia) e Rui Vargas.
O austríaco Louie Austen era até há poucos anos um incógnito cantor de hotel em Viena. Todas as noites, num ambiente fumarento de clube de jazz, interpretava canções dos seus heróis, como Sinatra ou Dean Martin. Nas horas vagas colaborava em sessões de estúdio. Numa dessas ocasiões conheceu Mario Neugebauer, alquimista de estúdio das novas tendências das electrónicas. Dessa improvável ligação entre um "crooner" de 65 anos e um produtor de 26, nasceu o álbum "Consequences", criado à base de ritmos vagamente tecno, ambientes jazzísticos e a voz invulgar de Austen.
No final do ano passado, a dupla voltou aos discos, desta feita na editora Kitty-Yo! (a mesma de Gonzales, Laub, Peaches ou Taylor Savy) com o álbum "Only Tonight". Nesse álbum, as batidas elásticas inspiradas no house e os elementos de "disco" combinavam com a voz grave de Austen, gerando uma espécie de electro-cabaret. Por essa altura, em entrevista, Austen assumia sem complexos a sua nova condição: "a diferença entre actuar com uma 'big band' e com um suporte electrónico é que os clubes de dança têm um sistema de som melhor... Hoje, sinto-me mais independente pelo facto de cantar as minhas canções românticas. A conjugação com a música de Mário é ideal. Por outro lado, muito sinceramente, a música actual é melhor".
Mas não vai estar só. Na mesma noite actua o jovem finlandês Vladislav Delay, através do seu pseudónimo Luomo. Ao vivo, costuma apresentar-se de costas para o público, enquanto toca a sua música em diversos teclados e se balança de forma voluptuosa. O seu trabalho em nome próprio (para editoras como a Mille Plateaux, Chain Reaction ou Max.Ernst) rege-se pelos princípios da estética "clicks & cuts", pelos erros microscópicos do "software", pelas técnicas de fragmentos e cortes, mas como Luomo veste uma pele mais lúdica.
É outra vez uma micro-deep-house minimalista, geradora de vastos espaços que impera – como o demonstra o excelente álbum "Vocalcity" –, mas agora mais emocional e menos científica, com vozes ocasionais a atribuirem-lhe uma sensualidade surpreendente. Quem gosta de Herbert, Jan Jelinek, Isolée, Matmos ou Thomas Brinkmann não deve perder. Na condição de DJ actua Steve Cobby, mentor dos bem conhecidos em Portugal Fila Brazillia, que lançaram o álbum "Jump Leads" e os portugueses Rui Vargas e Tiago Miranda.