Correios recusam distribuir cartas a convocar 55 mil catalães para mesas de voto
Colau diz que há acordo para os eleitores de Barcelona poderem votar a 1 de Outrubro.
Nas contas do governo da Catalunha, são precisas 55 mil pessoas para gerir as 6300 mesas eleitorais previstas para o referendo marcado para 1 de Outubro, uma consulta suspensa pela Justiça mas que os líderes catalães insistem que se vai realizar. O sorteio foi feito e a documentação deveria chegar até sexta-feira a casa dos escolhidos – ora os Correios de Espanha escreveram aos directores dos balcões da região, “recordando” que não podem envolver-se na entrega ou recepção de documentos ligados ao referendo.
Estas 55 mil pessoas, entre titulares e suplementes, serão membros das mesas (um presidente e dois vogais) e foram escolhidas os menores de 70 anos de cada círculo eleitoral. A Lei do Referendo, aprovada pelo parlamento catalão e suspensa pelo Tribunal Constitucional, prevê ainda, como em qualquer eleição, a presença de representantes dos partidos. A novidade é a bolsa de voluntários criada pela Generalitat para “colaborarem nos trabalhos relacionados com a realização do referendo” – no início da semana, já havia 30 mil inscritos.
O governo catalão, presidido por Carles Puigdemont, já fez saber que há alternativas aos correios para fazer chegar as cartas. Aliás, em desafio aberto ao Estado, os líderes independentistas estão obrigados a ter planos B para tudo: na quarta-feira, por exemplo, o site dedicado ao referendo foi encerrado, mas logo a página foi reaberta noutro endereço. Agora, quem tentar entrar no endereço original (http://www.referendum.cat/) lerá que “Este domínio foi confiscado e está à disposição da autoridade judicial” – o novo funciona em www.ref1oct.cat.
Não se sabe exactamente como, mas a Generalitat garante que o Comité Eleitoral (órgão nomeado pelos deputados catalães e que o Constitucional ordenou na quarta-feira que cesse actividade) está a notificar os tais 55 mil cidadãos, fazendo-lhes chegar um manual de instruções de 16 páginas onde se explica como devem actuar no dia 1 de Outubro e se recorda que “ser membro de uma mesa eleitoral é um dever cívico” e que “sem a participação e esfoço” destas pessoas “não se poderia realizar o referendo”.
O primeiro-ministro, Mariano Rajoy, já pedira directamente aos autarcas da Catalunha para recusarem participar – entretanto, mais de 700 (em 947) se disponibilizaram para ceder os locais habituais para as mesas de voto e até a presidente da câmara de Barcelona, Ada Colau, inicialmente hesitante, garante ter chegado a acordo com Puigdemont para que se possa votar na cidade “sem pôr em risco a instituição [a autarquia] ou os funcionários".
Rajoy fez entretanto um apelo dirigido aos próprios cidadãos: “Se alguém for convocado para ir a uma mesa eleitoral não vá porque não pode haver referendo e este seria um acto absolutamente ilegal”.