Fruto da insularidade, Romeu Bettencourt sonhava com uma carreira na aviação civil ou em Engenharia Mecânica. Na busca da melhor escola para o preparar para as disciplinas que teria pela frente – quando se tem uma mãe professora a exigência é maior – aos 15 anos ingressou na Escola Artística de Soares dos Reis, no Porto, e deu-se a descoberta desse mundo no qual nunca tinha reparado. “A ourivesaria foi amor à primeira vista.” Um amor na adolescência pode ser apenas uma paixão passageira, mas Romeu não estava enganado, ao ponto de a partir daí excluir qualquer outra carreira.
Em 2006, seguiu viagem para a Escócia onde estudou Cravação, no North Glasgow College. No ano seguinte, entrou para o curso de Joalharia na Escola Superior de Artes e Design (ESAD), de Matosinhos. É o domínio de todas as fases do processo que, aos 29 anos, lhe permite “fazer tudo sozinho”. A inspiração vai buscá-la às origens, aos tempos de São Miguel, quando sonhava em ser piloto, juntou-lhe o gosto infantil pela Lego e construções. São essas linhas mecânicas e minimalistas que transporta para anéis, pulseiras, colares, que compõem a sua marca lançada há um ano. Há seis que arriscava em colecções de autor, que o levaram a expor na Schmuck, em Munique, na Alemanha, em 2011. Seguiram-se apresentações em Espanha, França, Holanda. Entretanto, somou clientes privados, “muitos açoreanos, porque é mais fácil crescer nos meios pequenos”. Da ilha aos EUA e Canadá foi um salto. Construiu o seu site, alimenta as redes sociais, investe o que ganha em ouro, prata e pedras.
“Vieram-me as lágrimas quando recebi o email com a selecção”, conta. Nesta edição da PortoJóia foram atribuídos os prémios Best Of como forma de reconhecimento dos expositores do certame. Para cada categoria foram escolhidas três candidaturas pela direcção do evento e da AORP. Romeu estava nomeado ao lado de Inês Telles e Ana João e venceu o Prémio Revelação, o que veio confrontar a sua timidez e as incertezas. “Quando faço as peças não sei que impacto têm no público e estes dias [durante a feira], tenho esse feedback. Pela primeira vez senti a validação do meu trabalho.”