A 80 metros de altura, eis como vai ser o novo elevador da Ponte 25 de Abril
A Experiência Pilar 7 será um centro interpretativo com vista, orçado em 4,3 milhões. O PÚBLICO já visitou o interior do pilar de onde partirá o ascensor em 2017.
Um rugido quase ensurdecedor, tão rápido quanto grave e intenso – é assim que soa, portanto, a passagem do comboio da Ponte 25 de Abril quando se está dentro de um dos seus pilares. Sim, dentro de um dos pilares, que são ocos e têm espaço para abrigar a nova atracção turística de Lisboa: o futuro centro de interpretação da ponte, cujo elemento distintivo é o famoso elevador exterior que vai levar dezenas de pessoas por hora ao nível do tabuleiro da estrutura cinquentenária. A 80 metros de altura, vai ter um miradouro e uma varanda sobre o Tejo e a cidade. Mas para já estamos cá em baixo, cá dentro, e a um ano do fim estimado de um processo iniciado há três anos.
A Associação de Turismo de Lisboa (ATL) e a Infra-estruturas de Portugal (IP) assinam esta terça-feira o protocolo e apresentam, com a Câmara Municipal de Lisboa, o projecto integral do novo Centro Interpretativo da Ponte 25 de Abril, que vai contar a história da ponte enquanto exemplar de arquitectura industrial e parte da história da capital e do país. E que também vai permitir que se entre num pilar, que se suba por ele e que se fique (quase) a pairar ao lado da ponte gerida pela IP, onde nasceu o plano para esta vela de vidro e aço no bolo das bodas de ouro da Ponte 25 de Abril. O plano, divulgado há um ano pelo PÚBLICO, era que tudo ficasse pronto a tempo dos 50 anos, data redonda cumprida no último sábado. Agora, e como o cinquentenário só termina a 6 de Agosto de 2017, a ideia é inaugurar o centro até lá.
No interior de um dos “maciços que são paredes” na margem Norte do rio, com a antiga FIL à direita e os últimos restaurantes das Docas em frente, já não se ouve o balanço dos carros no tabuleiro. Nem o trânsito na Avenida da Índia. É o maciço principal, aquele que ali foi instalado há exactamente 50 anos, que nos recebe. E que acolherá os visitantes para lhes dar a conhecer parte da história da ponte, para os situar em relação ao nível do rio, ou, depois de uma subida numa plataforma elevatória, para verem de perto as duas fiadas de cabos, cada um com a espessura de um punho, que são “o coração da ponte”.
As expressões são de José Costa Nunes, engenheiro da IP e um dos ideólogos do projecto que agora passará para os cuidados do Turismo e daqueles que forem escolhidos no concurso público já aberto, no valor de 4,3 milhões de euros, para erguer a ideia e explorá-la. “Os cabos de amarração da ponte são uma parte especial”, destaca, depois de subirmos por escadas presas à parede (que irão desaparecer com o novo projecto). “Sustentam toda a estrutura e a sua carga”, diz sobre a ponte em toda a sua majestade esmagadora. A ponte são carros, motas, camiões e comboios a passar, aço, alcatrão e rede a segurar, vento a soprar, gente a trabalhar. Engarrafamentos, fundo de fotografias para mais tarde recordar e, agora, mais uma estrutura à qual se pode trepar – a mais recente a fazer furor em Lisboa, depois do Arco da Rua Augusta, é o terraço das Amoreiras e seguir-se-á a cobertura do Museu do Design e da Moda. Mas nenhuma chega tão alto quanto a 25 de Abril, que quer equiparar-se a outras pontes visitáveis espalhadas pelo mundo.
As roldanas, e os cabos que disparam para um ponto na parede oposta, são da cor da 25 de Abril que todos conhecem – afinal, a ponte é um dos “postais” da cidade. São como dezenas de jactos vermelhos, oblíquos e rigidamente direccionados, que ocupam a totalidade das duas salas do piso superior do interior do maciço. Estamos já bem perto dos últimos dos cerca de 20 metros de pé direito do espaço.
É este maciço principal que vai ter o elevador na sua face exterior, voltada para Belém. Quem conduz na ponte à saída de Lisboa pode começar a imaginar onde ele se vai acoplar quando vir o muro que diz "Ponte 25 de Abril", já quase com o Tejo debaixo das rodas.
A entrada será paga e o espaço e o elevador serão acessíveis a pessoas com mobilidade reduzida. Os visitantes chegarão a 80 metros de altura, subindo 20 pessoas de cada vez num elevador feito à medida e, explicam os membros da equipa da IP, com preocupações de segurança acrescidas. O que a proposta-base adianta é que a estrutura exterior será em aço, vidro e rede de alumínio e, lá em cima, contempla “um alargamento em consola, com rede". Para criar “a experiência da ponte e as pessoas pisarem a rede como se estivessem na grade da ponte”, entusiasma-se José Costa Nunes. Quem sofra de vertigens, e mesmo assim consiga subir os 80 metros sobre a orla de Lisboa e o rio, terá uma zona sem esse rendilhado para poder deslocar-se, detalha o técnico que tem feito a gestão do projecto.
Os visitantes demorarão cerca de dois minutos a subir até ao miradouro com capacidade para 40 pessoas e que terá uma prancha ou "varanda" mais saída – tudo revestido a vidro reforçado, com cerca de 2,5 metros de altura, e com as zonas de contacto ao nível do tabuleiro opacificadas, para não perturbar a circulação automóvel.
Infografia: a Ponte 25 de Abril
Entre o elevador e a ponte haverá uma barreira para garantir a segurança rodoviária. A gaiola e o varandim serão visíveis “pelo retrovisor de quem vem de Lisboa” e um pouco mais para quem viaja de Almada para Lisboa, diz o engenheiro, que está ligado à manutenção da ponte desde 2008 e nos últimos tempos se tem dedicado quase em exclusivo a esta nova adição. O elevador, o centro de interpretação e seus novos edifícios – o projecto é do arquitecto António Borges, ligado à área patrimonial da IP – são trabalho interno da empresa pública; o plano de musealização e sinalética foi pedido ao atelier P06.
O projecto será apresentado com o nome Experiência Pilar 7. Começou como uma espécie de working title, como o dos filmes em rodagem que querem manter-se discretos ou ainda não definiram o seu título definitivo: fica no pilar número sete da ponte. Agora, o “senhorio”, como se descreve a IP, entregará ao seu inquilino de vocação turística a nova valência da 25 de Abril, que está em vias de ser classificada como monumento nacional. A Direcção-Geral do Património Cultural, que tem em curso o processo de classificação e que a considera uma das “obras de engenharia civil mais marcantes de Lisboa e, certamente, de Portugal”, aprovou o projecto da Experiência Pilar 7 em 2015. O mesmo fez a Câmara de Lisboa.
Ponte para o turismo
No solo em torno do maciço principal, entre o Hotel Vila Galé Ópera, os terrenos do Museu da Carris e o cowork Village Underground, enterram-se ainda os dois maciços secundários e “o segundo cabo” – aquele que foi instalado quando a ponte passou também a ter um comboio, em 1999. É por ali que vai serpentear o circuito turístico da nova atracção para a cidade, cujos pólos mais populares estão a Oriente, na Baixa pombalina e no Castelo de São Jorge, ou a Ocidente, com o Mosteiro dos Jerónimos e os monumentos circundantes.
A Experiência Pilar 7 vai ficar no meio destas grandes rotas turísticas, tendo a IP encontrado na ATL o parceiro que procurava há um ano, como noticiou o PÚBLICO, para pôr em campo e financiar a sua ideia para o cinquentenário.
Entretanto, o “senhorio” IP já tinha feito estudos de mercado e estimativas para o que pode ser o futuro do projecto. A nova atracção de Lisboa projecta ter cerca de 170 mil visitantes no primeiro ano e espera a recuperação do investimento do Turismo num prazo de sete a dez anos e resultados de exploração positiva num ano a ano e meio, além da criação de cerca de 19 postos de trabalho. Tudo isto são previsões, tal como as propostas de conteúdos – dos filmes sobre a história da ponte à realidade virtual para fotos 3D, ou à maquete suspensa que permita vê-la no interior do futuro centro – são uma matriz em relação à qual a IP permite variações, desde que não se desvirtue a estrutura.
Há um ano, o PÚBLICO ouviu arquitectos e urbanistas sobre “o elevador da ponte” e entre as poucas críticas figurava a sua utilidade discutível pelo facto de Lisboa e as suas sete colinas serem já promontórios naturais para diferentes perspectivas da cidade e do Tejo. Citava-se ainda o exemplo da Ponte da Arrábida, no Porto, que já é monumento nacional desde 2013 e tem quatro elevadores desactivados há 20 anos devido aos elevados custos de manutenção e a questões de segurança. A IP considera que abertura do centro e do elevador permitirão não só ver a ponte por dentro como responder ao interesse dos portugueses e estrangeiros pela estrutura, e frisa que o projecto tem capacidade evolutiva.
Agora, quem vê a ponte do solo do lado de Belém repara, no pilar sete, numa manga de vento vermelha e branca. Quem passa em cima da ponte também a vê, a ondular com vista para o Padrão dos Descobrimentos, para as obras do novo edifício do Museu de Arte, Arquitectura e Tecnologia (MAAT), para a Torre de Belém e para o casario sobre o Tejo. É precisamente ali, aponta Costa Nunes, sorridente debaixo do tabuleiro onde vai nascer o centro interpretativo, que estará o elevador.