Um elevador para subir à Ponte 25 de Abril e ver a vista

A ideia em estudo é monumentalizar a ponte, uma das imagens mais icónicas de Lisboa. Um elevador ao nível do tabuleiro dos carros com vista para Belém e um pólo expositivo no solo para contar a história de uma ponte.

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Será este o aspecto do futuro elevador da ponte (imagem manipulada) dr
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Enric Vives-Rubio
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Na base do pilar será construído o pequeno núcleo interpretativo da ponte dr

A empresa pública Infra-Estruturas de Portugal está à procura de parceiros para o projecto, inclusive para o investimento. Há muitos contactos feitos, sabe o PÚBLICO, mas a direcção de comunicação considera prematuro adiantar pormenores sobre o projecto.

Segundo uma fonte ligada ao processo, o objectivo é “criar um pólo de atracção turística e cultural, em que o elevador seria apenas uma das vertentes”. Mas a exploração do pólo e do elevador não se adequa ao perfil das Infra-Estruturas de Portugal, cuja actividade está centrada na gestão das infra-estruturas rodoviárias e ferroviárias, por isso seriam necessários parceiros capazes de desenvolver e gerir este novo equipamento, numa colaboração entre várias entidades.

Ao que o PÚBLICO apurou, o novo pólo da ponte pode ocupar parte do terreno livre à volta do pilar de Alcântara, um espaço generoso cujo acesso, actualmente vedado, se faz pela Av. da Índia, ao lado do Hotel Vila da Galé Ópera. O núcleo contaria a história deste monumento inaugurado em 1966, a partir do lado de Almada, pelo Presidente da República, almirante Américo Tomás, o presidente do conselho, António de Oliveira Salazar, e pelo cardeal Cerejeira, patriarca de Lisboa. Nessa altura chamava-se Ponte Salazar, em homenagem ao líder da ditadura do Estado Novo, nome alterado para o actual depois da revolução de Abril.

O desejo, aliás, é que a inauguração do pólo e do elevador seja uma espécie de Parabéns a você quando passarem 50 anos sobre a inauguração da ponte, a 6 de Agosto de 2016.

O elevador, que poderá subir até à altura do tabuleiro rodoviário, como mostra a fotografia manipulada a que o PÚBLICO teve acesso, “ocuparia necessariamente um espaço reduzido”, explica a mesma fonte. A hipótese mais provável é que seja implantado do lado de Belém, tentando “esbater ao máximo a sua existência na estrutura”. Desse lado, se tudo correr conforme o previsto, ficará umas poucas dezenas de metros acima do Padrão dos Descobrimentos, que sobe até aos 56 metros. Já na outra margem, partindo de uma cota mais alta, está o Cristo-Rei, cujo elevador chega aos 82 metros de altura.

Em Março deste ano, a Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC) abriu o processo de classificação da Ponte 25 de Abril, cujo comprimento total ultrapassa os 3200 metros e tem uma altura máxima de 190,5 metros com as duas torres. No processo agora a ser analisado pela DGPC, a ponte é considerada uma das “obras de engenharia civil mais marcantes de Lisboa e, certamente, de Portugal”.

A direcção-geral, que começou a estudar o possibilidade de vir a classificar a ponte ainda em 2013, confirmou ao PÚBLICO que, no âmbito das comemorações do 50.º aniversário, recebeu para sua apreciação “um projecto para a construção de um elevador exterior num dos pilares da ponte”, projecto esse que aprovou a 15 de Janeiro deste ano.

Quanto à classificação da própria ponte, nada está ainda decidido, garante a assessora de comunicação da DGPC, Maria Resende. O procedimento está na segunda fase, que corresponde ao “estudo, análise e reflexão para fundamentar uma tomada de decisão relativamente à graduação e categoria de classificação” (é nesta fase que os técnicos decidem, por exemplo, se deverá ser considerada monumento nacional).

Dúzia de projectos
No Sistema de Informação para o Património Arquitectónico (SIPA), recentemente integrado na DGPC, escreve-se que esta “é uma ponte atirantada de tipo harpa”, suspensa, feita de ferro e aço. As duas torres sustentam os cabos, que, por sua vez, sustentam os dois tabuleiros, o superior, rodoviário, com seis vias, e o inferior, para comboios, com duas vias. Os cabos amarram-se a maciços de betão nas duas margens.

Esta foi a primeira ponte a ligar as duas margens do rio Tejo junto a Lisboa, resultado de vários projectos que foram surgindo ao longo dos séculos XIX e XX. O SIPA diz que, na altura em que foi construída, era a segunda maior ponte suspensa do mundo, sendo várias as “afinidades” com a Golden Gate de São Francisco, inaugurada em 1937. Tem a mesma arquitectura e a mesma cor.

No registo do SIPA relativo à cronologia são varíadíssimos os projectos antes da adjudicação em 1962 e vê-se como a ideia de unir as duas margens do Tejo na zona de Lisboa ocupou, durante mais de um século, a imaginação de muita gente. A primeira ideia recua até 1876, ano em que Alexander Bell pantenteou o telefone e nasceu em Portugal a Caixa Geral de Depósitos. É da autoria do engenheiro Miguel Pais, que com uma ponte semelhante à de Viana do Castelo quer ligar a zona do Grilo (Beato) à do Montijo. Doze anos depois, um engenheiro americano, chamado Lye, propõe desenhar uma ponte entre Almada e a Rua do Tesouro Velho, actual Rua António Maria Cardoso, na zona do Chiado, fazendo provavelmente uma linha em direcção ao Cais do Sodré. Em 1889, o traçado proposto por dois engenheiros franceses é mais fácil de imaginar, tendo em vista a cidade actual, e faz-se entre a Rocha Conde de Óbidos e Almada, através de uma ponte de arcadas. Várias décadas depois, em 1951, o engenheiro espanhol Peña Boeuf propõe a construção de uma ponte suspensa entre Almada e o Alto de Santa Catarina.

Mas só em 1959 será criado o Gabinete da Ponte sobre o Tejo e lançado um concurso internacional. O contrato para a execução da obra foi assinado com a United States Steel Corporation em 1961. A ponte começou a ser construída no ano seguinte e foi terminada seis meses antes do previsto no início do mês de Agosto.

Ainda não é certo que o elevador esteja pronto em Agosto de 2016, a tempo do aniversário. Muita coisa está em aberto e o decisivo agora é encontrar parceiros. Quanto ao ponto de chegada do elevador, uma varanda ao nível do tabuleiro rodoviário, é provável que não cheguem a caber dez pessoas. Tudo tem de ficar bem “escondido para não causar distracções” nos condutores.

com Lucinda Canelas
 

Notícia actualizada às 15h55 para acrescentar as fotografias manipuladas que mostram como será o novo elevador e o núcleo interpretativo

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