Pai dos fenómenos do Entroncamento revela segredo com mais de 30 anos
Eduardo Pinheiro Brito, o homem que nas décadas de 1950 e 1960 deliciou os leitores dos jornais "Diário Popular", "Diário de Notícias", "O Primeiro de Janeiro" e "O Comércio do Porto", entre muitos outros, com os famosos fenómenos do Entroncamento, deixou um dia, já lá vão mais de 30 anos, de noticiar toda e qualquer ocorrência insólita no burgo. O silêncio, decidido assim por Eduardo Brito, apanhou toda a gente de surpresa no Entroncamento e a verdade é que desde então o mistério permaneceu intacto. O pai dos fenómenos também nunca se explicou. Quando questionado sobre o tema comentava filosoficamente que "tudo o que tem um princípio tem um fim", uma observação cheia de sabedoria, mas que deixava uma ideia muito vaga da verdadeira razão.Há poucos dias atrás, Eduardo Brito, que hoje completa 89 anos, decidiu revelar em carta pessoal, cujo conteúdo sobre os fenómenos autorizou a divulgar, a razão sobre nunca mais ter acrescentado um fenómeno às muitas centenas que noticiara. Tanto mais que foram os fenómenos que o levaram a conquistar durante quatro anos consecutivos o título de melhor correspondente do "Diário Popular", jornal onde os insólitos casos tinham frequentes vezes acolhimento na primeira página."Tenho um segredo que nunca quis revelar sobre a minha súbita paragem jornalística respeitante às referidas locais. Mas vou agora revelá-lo pela primeira vez ao meu prezado amigo. Não imagina as cartas anónimas que então recebia, chegando a dizer-me que era vergonhosa a figura e a imagem que eu estava fazendo do Entroncamento", revela Eduardo Brito na missiva . " É claro que essas cartas aborreciam-me, mas como eram anónimas fazia por esquecê-las. Mas o pior é o que me vinham dizendo o que A e B vinham espalhando pelos cafés sobre a minha atitude com os fenómenos. Ora isto aborrecia-me muito e um dia aproveitei um grande artigo de elogio aos fenómenos do grande cineasta e jornalista Leitão de Barros para acabar de vez com o assunto", conclui o jornalista, ainda hoje no activo.Durante muitos anos o país habituou-se e familiarizou-se com as "inexplicáveis" ocorrências que vinham da terra dos comboios, mas a verdade é que por detrás deles havia uma verdadeira cadeia de produção em série dessas divertidas teratologias."Havia na então vila ferroviária um maquinista, o Manuel Freitas, que tinha um talento excepcional para fazer enxertias em plantas e cruzar espécies. Eu julgo que ele tinha algum segredo, mas se isto é verdade, morreu com ele", diz ao PÚBLICO Eduardo Brito, reconhecendo que os dois tinham uma cumplicidade especial."O Manuel de Freitas era fantástico a fazer fenómenos na horta dele. E eu, quando não apareciam outros, passava por essa horta e já sabia que era fenómeno e artigo para o jornal garantidos", confessa o jornalista, que escreve sem interrupção em jornais há 72 anos. " O Manuel era de tal calibre que conseguia pôr uma árvore a dar ao mesmo tempo laranjas, tangerinas, limões e até pêras e maçãs! Ele, para mim, era uma mina, um verdadeiro poço de enxertias. Só ele conseguia fazer plantas que davam tomates por cima e batatas por baixo, tudo isto eu comprovei, não há ponta de fantasia ou de imaginação", salienta.Com ou sem o selo de Manuel de Freitas, a verdade é que os fenómenos nunca deram sinais de abrandamento. Do raríssimo melro branco ao pardal que ia sempre dormir a casa do dono, da couve que dava cravos à lebre que bebia leite por biberão, e dos cravos verdes ao carneiro com quatro cornos ou ao toureiro que mordeu no touro tudo parecia possível de acontecer no Entroncamento. Mas o facto é que eles resultaram sobretudo de uma espécie de "ovo de Colombo" descoberto pelo jornalista. "Dantes, sobretudo na década de 1940, apareciam muitas coisas insólitas que vinham sempre da América. Pensei que estes insólitos aconteceriam em muitos outros lados, era tudo uma questão de os procurar. Foi o que fiz - e assim começaram a aparecer os fenómenos do Entroncamento", conclui Eduardo Brito, frisando que os aparatos botânicos e zoológicos locais chegaram a ser publicitados na imprensa internacional. Depois, como tudo o que tem um começo, acabaram.