O Marcão que se devia chamar "Cheirão"
Os fins justificam os meios. Esta deve ser a máxima de Marcão, defesa central do Americano, do Rio de Janeiro. É verdade que Marcão tem o nome perfeito para quem escolheu como profissão destruir o que os outros constróem, marcando em cima os avançados adversários. O problema é que Marcão devia mudar o nome para "Cheirão". E devia pela simples razão de que Marcão cheira mal da boca. Ele sabe-o, faz até de propósito e é com esta "miserável" táctica que ele espanta da sua área os avançados adversários. Romário, que como se sabe tem um futebol cheio de perfume, é uma das vítimas.Mas sofrerá Marcão do terrível mal do mau hálito? Nem pensar. Marcão, com requintes de malvadez, provoca o mau hálito com a inestimável ajuda de cebola. Sim cebola, esse vegetal maldito que incompreensivelmente não faz parte da lista de produtos proibidos, que não acusa nos controlos anti-"doping", mas que exala um odor de morte quando se quer chutar para o golo e se acaba derrotado por um "aaaaahhhh" de fazer vir as lágrimas aos olhos. E, depois, vá lá convencer-se avançado algum a pisar novamente os terrenos tóxicos do Marcão que se devia chamar "Cheirão".Aos 21 anos, Marcão terá inventado a última, mas provavelmente definitiva, táctica do ultra-defensivo "catenaccio". Sem recorrer aos velhinhos métodos, tipo entrar à bruta duas ou três vezes, para marcar território, mas com o risco de ser "amarelado" ou até expulso pelo árbitro, Marcão leva bocados de cebola escondidos nas meias. Depois, bem, depois é só ir mastigando a cebola na justa proporção do atrevimento dos avançados adversários. "Ele come a cebola dentro do campo. Ele a esconde no 'meião'", conta, divertido, o treinador Luís Antônio Zaluar, sem ainda ter, por certo, percebido, que o pupilo está a matar a profissão de treinador - de que valem as tácticas elaboradas, as jogadas estudadas, as análises profundas, se tudo se esfuma num bafo anti-craques?A história foi contada pelo Jornal do Brasil e os resultados estão bem à vista. O pequenino e desconhecido Americano é a equipa sensação do campeonato do Rio de Janeiro e tem - pudera - a defesa menos batida, com seis golos sofridos em sete jogos (cinco vitórias, um empate e uma derrota).Quando defrontou o Vasco da Gama, não fosse Romário estar constipado e, portanto, imune aos "desarmes de cebolada", Marcão fez o que tantas vezes a humanidade fez, ao longo de séculos de evolução: juntou velhos métodos às mais recentes novidades "hi-tech". Ou seja, com o seu terrível hálito de cebola dirigiu-se, educadamente, ao avançado e disse-lhe: "Senhor Romário não me tente fazer de bobo. Eu ganho um salário de 150 reais mensais [pouco mais de 15 mil escudos, ou 75 euros], mas pagam-me quase cinco mil [cerca de 500 contos, ou 2.500 euros] se ganharmos este jogo. Assim, não me venha com coisas, senão vai sair do estádio em maca". Romário, espantado, só disse: "Que é isso, negão. Tá maluco?", e não deu uma para a caixa.Outra vítima foi o avançado do Flamengo Edilson, que há uns anos jogou no Benfica. Jogador cheio de "swing", Edilson perdeu a vontade de bailar quando, ainda na madrugada da partida, Marcão levantou o pé, que é como quem diz a meia, até ao nariz de Edilson e depois segredou-lhe com o seu bafo que arrasa a mais forte das paixões: "Edilson, não vem com essa coisa de capeta [frenesim]". Dito e feito: Edilson arrastou-se pelo campo e manteve-se sempre a uma distância de segurança. "Acho que ele se impressionou com o Marcão. O que é muito engraçado, porque o Marcão é um bebezão, incapaz de fazer mal a alguém, além de ser bem divertido", comentou depois Luís Antônio Zaluar.Mas porque todo o ser humano tem um lado bom, Marcão nos treinos prefere as bananas às cebolas, para alegria de toda a "turma", como gostam de dizer os brasileiros. Seja porque às vezes leva o gosto ao exagero, seja porque tem algum paladar na boca que gostasse de disfarçar, "o pessoal até o segura quando são servidas bananas, porque senão não sobra banana para ninguém", concluiu Zaluar.Quem nunca cheirou o hálito de cebola que marque o primeiro golo.