Seis estações fundamentais

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"Agosto"

"Pedro Hestnes - Faça de Mim o Que Quiser", a retrospectiva integral que a Cinemateca ontem iniciou, com a exibição de "O Sangue", inclui ao todo 28 filmes, entre curtas e longas-metragens. Cronologia de alguns momentos fundadores da filmografia do actor português.

"Agosto" (1988), de Jorge Silva Melo Hoje, às 21h30

Nesta adaptação livre de "A Praia", de Cesare Pavese, ao cenário natural da Arrábida, Jorge Silva Melo entrega a Pedro Hestnes um emblemático papel: um jovem de aparições fugazes, cujo olhar, quente como o Verão que filma, parece pedir um romance para uma inocência revelada no descomprometido tempo da sua estação. Terceira aparição de Pedro Hestnesem longas-metragens, depois do jovem sedutor de "Três Menos Eu" (1987), de João Canijo, e de uma presença no extenso elenco de "Tempos Difíceis" (1988), de João Botelho.

"O Sangue"

(1989), de Pedro Costa

Exibido ontem

Primeira longa-metragem de Pedro Costa, "O Sangue" representa um marco do cinema português. Longe do universo e da forma que Costa desenvolveria posteriormente no Bairro das Fontainhas, Hestnes interpreta o seu primeiro papel principal ao lado de Inês de Medeiros. Um filme de dois jovens que procuram viver a sua inocência entre o medo de um mundo adulto e estranho à sua fantasia - a lembrar a fábula de "A Sombra do Caçador" (1955), de Charles Laughton, obra única e rara, tal como o "O Sangue", na história do cinema.

"Xavier"(1992), de Manuel Mozos

Dia 22, às 19h

"Xavier" reúne os esforços e os rostos da nova geração do cinema português que então emergia: com uma ponte para "Os Verdes Anos" (1963), de Paulo Rocha, filme maior do Cinema Novo que rompe com o populista cinema da época, a segunda obra de Manuel Mozos poderia também ter tido efeito semelhante no seu tempo, não fossem as catastróficas condições de produção que atrasaram a sua estreia em mais de uma década. Hestnes recusou-se a terminar o filme, um peso com que o actor, segundo Mozos, terá também vivido. Esse terá sido talvez o primeiro sinal de fuga em relação a um cinema que estaria a entrar no fim da sua prova de vida.

"Casa

de Lava" (1994),de Pedro Costa

Dia 13, às 19h

"Casa de Lava" surge como filme de despedida: depois desta última rodagem com Costa, parceiro privilegiado no mundo do cinema português, Hestnes abandonaria a intensa regularidade com que trabalhara até então para espaçar, de forma crescente, as suas aparições, acompanhando, assim, a dispersão criativa e industrial do meio. Pedro Costa, por sua vez, regressaria de Cabo Verde, onde a sua segunda longa-metragem fora filmada, para entrar no Bairro das Fontainhas e dar um novo rumo ao seu trabalho.

"Docteur

Chance" (1997), de F.J. Ossang

Dia 21, às 19h

O cinema de F.J. Ossang terá sido a maior aproximação de Pedro Hestnes a uma das suas grandes paixões: a banda-desenhada, universo que o actor perseguiu na sua vida pessoal, sem nunca ter conseguido finalizar ou apresentar uma obra ao mundo. A aventura "animada" de Ossang, que transfiguraria também a aparência do actor, foi ainda uma porta aberta para outro interesse, a música: em "Docteur Chance", Hestnes contracenava com Joe Strummer, fundador e compositor dos The Clash.

"Body Rice"(2006), de Hugo Vieira da Silva

Dias 9 e 27, às 19h30

Uma das últimas aparições de Hestnes no cinema, de aparência já envelhecida e longe da sua aura de jovem romântico perdido, mas carregando ainda o olhar e a voz que sempre caracterizaram a sua presença no ecrã. Num papel raramente visto na sua carreira, contrário a uma imagem idílica e juvenil, Hestnes revela, no experimental universo de Hugo Vieira da Silva, o seu contínuo interesse por trabalhar em primeiras obras de novos realizadores, algo que o inspirava a mergulhar na força que caracterizou sempre, como aqui, as suas interpretações.

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