O olhar da Life está online
Algumas centenas de fotografias da colecção da revista norte-americana estão acessíveis ao público, através de uma parecia com a Google. Da Guerra Civil nos EUA até à viagem da Apollo 8, o arquivo confirma que a História deve muito à fotografia. Por Maria José Oliveira
a As primeiras imagens da Terra, captadas pela Apollo 8, em 1968; retratos da Grande Depressão nos EUA, que incluem a famosa fotografia que revela a angústia de uma mãe, Florence Thompson, que vive com os seus filhos na plena miséria; o assassinato de John Kennedy em Dallas, em 1963; a pose introspectiva da Rainha Vitória sentada à sua secretária, em 1892; a presença do Presidente Abraham Lincoln nos campos de batalha da Guerra Civil Americana, em Outubro de 1862. Não é apenas a história dos EUA em imagens, mas também a do mundo, que está agora disponível (ainda que em número reduzido) no motor de busca Google, resultado de uma parceria da empresa norte-americana com a mítica revista Life. Para já, estão disponíveis online (no endereço http://images.google.com/hosted/life), desde a passada terça-feira, algumas centenas de imagens com um período cronológico que começa na Guerra Civil americana (anos de 1860) até aos final dos anos 70 do século XX. Mas, até meados de 2009, a Google pretende colocar em linha mais de dez mil fotografias pertencentes ao arquivo da Life, sabendo-se que a maioria (perto de 97 por cento) nunca chegou a ser publicada nas páginas da revista. "Com tantas fotografias que nunca foram vistas, este serviço irá, de facto, beneficiar o público", sublinhou RJ Pittman, director de gestão de produtos da Google, citado pelo diário britânico The Guardian. O trabalho de digitalização envolveu a recuperação e o restauro, em alguns casos, de negativos, slides, placas de vidro, estampas e reproduções.
No espólio que já está online podem ser encontrados alguns dos momentos e das figuras mais importantes de finais do século XIX até aos anos 70 do século passado - da política à economia, passando pelas artes e pelo desporto. O acervo fotográfico da Life é reconhecido a nível internacional, pela sua qualidade e importância para a história mundial. Alguns dos seus colaboradores são nomes sonantes do fotojornalismo internacional - Robert Capa, Alfred Eisenstaedt, Henri Huet, Lee Miller. Eugene Smith, John Vachon, Tony Zaponne, entre outros - que ainda hoje fazem escola no jornalismo fotográfico.
Muitas das imagens que vão estar disponíveis pertencem também ao arquivo pessoal de Henry Luce (1898-1967), o fundador da revista Time, que, em 1936, comprou a Life e transformou-a numa publicação de referência, dando início aos anos de ouro da revista. Luce, refira-se, foi também o criador da Fortune, da House & Home e da Sports Illustrated.
Numa altura em que apenas 20 por cento da colecção está acessível na Internet, Dawn Bridges, porta-voz da TimeInc, empresa que detém o título da Life, avançou já que os arquivos que estarão disponíveis no próximo ano não se reportarão apenas a acontecimentos históricos. "Serão acrescentadas coisas novas", afirmou. Entre as novidades estão "milhares de novas fotografias" sobre Washington que serão "libertadas" para o Google Images, a pretexto da tomada de posse do Presidente eleito dos EUA, Barack Obama.
Após uma consulta ao site, António Pedro Ferreira, fotojornalista do Expresso, não se mostrou muito entusiasmado com a oferta. "É interessante, mas não absolutamente espectacular", disse, fazendo notar a ausência das imagens da natureza da autoria de John Dominis, fotógrafo da Life. Apesar de reconhecer que o arquivo poderá ser "uma boa ferramenta para a imprensa mundial", António Pedro lamentou a escassez de fotografias por década e a pobre variedade temática. "Há sites que nos deixam embevecidos, é o caso do portal da agência Magnum. Não é o caso deste."
Desde a sua criação, em Janeiro de 1883, a Life já passou por vários formatos, teve uma periodicidade irregular e, desde o ano passado, que existe apenas a edição online (www.life.com). A partir de 2004, e para fazer frente a dificuldades financeiras, a revista passou a ser distribuída gratuitamente em 60 jornais norte-americanos. Dois anos depois, o suplemento começou a definhar, apresentando somente 20 páginas. O processo de morte lenta foi travado em 2007, quando a TimeInc decidiu fazê-la sobreviver na Internet.
Florence Thompson, trabalhadora agrícola da Califórnia, e os filhos, de Dorothea Lange (1936)
O casal Kennedy no dia da tomada de posse, de Paul Schutzer (1961)
Rainha Vitória à secretária (1892)
O Presidente Lincoln, com dois militares, num campo de batalha da Guerra Civil, de Alexander Gardner (1862)
Casal em Times Square celebrando a vitória sobre o Japão, Alfred Eisenstaedt (1945)
Pablo Picasso, de Gjon Mili (1949)
Rapariga no basebol,
de Howard Sochurek (1950)
Andrea M. Lawrence praticando para os Jogos Olímpicos de Inverno, de George Silk (1947)