Uber pode ser a aplicação mais valiosa do mercado mas também é a mais polémica
Aplicação para pedido de táxi privado enfrenta batalhas na justiça por concorrência desleal e falta de garantias de segurança dos clientes.
Nos Estados Unidos, a Uber suspendeu o seu serviço no estado do Nevada depois de ter sido iniciado um processo judicial a criticar a aplicação. Na altura, a empresa emitiu um comunicado a anunciar a sua decisão e a alertar para as consequências de se retirar do mercado naquele estado. “A partir desta noite, perto de mil postos de trabalho vão desaparecer no Nevada e estas pessoas vão perder a capacidade de ganhar a vida”.
Mais recentemente, ainda nos Estados Unidos, a Uber foi processada pelo ministério público de São Francisco e de Los Angeles por não garantir a segurança dos clientes do seu serviço com a análise do currículo e passado dos motoristas que trabalham com a aplicação móvel. “A empresa repete essa declaração enganosa, dando aos consumidores um falso sentimento de segurança quando decide entrar no carro de um estranho”, afirmou George Gascon, procurador de São Francisco, ao LA Times.
Portland, no estado de Oregon, também anunciou esta semana que vai processar a Uber, que acusou de operar de forma ilegal, desleal com a concorrência e de oferecer um serviço de transporte sem regras, licenças e inspecções. Citada pelo Wall Street Journal, a Uber sublinha que não é uma empresa de transporte de passageiros mas uma plataforma tecnológica. “Boas regulamentações tornam a comunidade mais segura. A Uber discorda, por isso vamos pedir ao tribunal uma injunção [contra a empresa]”, afirmou o mayor de Portland, Charlie Hales.
No Rio de Janeiro, Brasil, a Uber foi considerada ilegal. Segundo o jornal Estadão, a Secretaria Municipal de Transportes pediu uma investigação a aplicação, “uma vez que se trata de veículos particulares realizando serviço irregular de transporte de passageiros sob cobrança”.
Europa e Ásia atentas as violação da lei
Na Europa, a aplicação Uber foi desafiada na Justiça pela França, onde foi considerada inconstitucional mas ainda não foi anunciada uma decisão final, Alemanha, onde chegou a ser suspensa mas que actualmente está a autorizada a operar temporariamente, e Holanda, onde foi impedida de trabalhar. Na terça-feira, Espanha juntou-se aos casos na justiça, com um juiz a aceitar uma providência cautelar de uma associação de táxis a pedir a proibição da aplicação Uber no país.
Na Ásia, onde a empresa está a apostar na sua expansão, nomeadamente através de um reforço de investimento de 1,2 mil milhões de dólares que recebeu na semana passada, a Uber foi banida em Nova Deli, Índia, depois de um motorista ao serviço da aplicação ter sido acusado de violação por uma cliente. O homem já tinha sido detido há três anos também acusado de agressão sexual, mas foi absolvido, tendo trabalhado com a Uber desde então.
No mesmo continente, a Tailândia proibiu a Uber e todas as aplicações que prestem serviço de táxis em veículos particulares.
Todas estas medidas foram antecipadas por greves, que paralisaram motoristas de táxi em várias cidades europeias no Verão. A operar em Lisboa, a Uber já recebeu críticas das associações nacionais. Na altura das greves contra o serviço, a Antral disse ao PÚBLICO que aplicações como a da Uber são “ilegais”. “Situações como a partilha de táxi em carros particulares provocam a desregularização total do sector. [A aplicação] não é possível na Europa”, defendeu o presidente da associação, Florêncio Almeida. Carlos Ramos, da Federação Portuguesa do Táxi, acrescentou que deve ser definida uma estratégia a nível europeu” de resposta a serviços como o da Uber.
Investigar as vidas dos jornalistas
No mês passado, a Uber viu-se envolvida numa outra polémica, quando um dos seus directores, Emil Michael, admitiu que a empresa estava disposta a investigar as vidas pessoais dos jornalistas, nomeadamente os que têm assinado artigos a indicar as fragilidades legais da Uber, levantando questões sobre as políticas de privacidade da aplicação.
Num comentário que publicou na semana passada no blogue da Uber, o co-fundador da empresa, Travis Kalanick, admitiu que esses acontecimentos não beneficiaram a empresa, que precisa de “investir no seu crescimento interno e mudar”. “Reconhecer os erros e aprender com eles são os primeiros passos”, escreveu.
A empresa defende que a legislação em vigor em algumas das cidades onde já opera ou em que quer passar a ter uma representação “têm 50 a 60 anos e não funcionam actualmente”, argumentou o vice-presidente para a política e estratégia da Uber, David Plouffe, numa entrevista à Bloomberg em Outubro.
Presente em 250 cidades de 51 países, incluindo Portugal, a Uber tem repetido que uma das suas principais preocupações é a segurança dos clientes da aplicação. “Estamos empenhados com os motoristas e utilizadores nessas cidades que querem opções seguras, confiáveis e sem assédios”, disse Nairi Hourdajian, porta-voz da empresa.
O serviço que a Uber presta pretende facilitar o contacto de um cliente com uma viatura, através do telemóvel, de forma personalizada e sem notas e moedas à mistura.
A Uber exige aos seus motoristas uma série de requisitos para trabalharem na empresa para garantir um serviço individualizado, onde o cliente tem um tratamento personalizado durante a viagem. A aplicação faz o resto. A localização do telemóvel do cliente é detectada por GPS e é-lhe indicado o motorista que se encontra mais próximo. Feito o pedido do serviço, a Uber contacta o taxista, cuja identificação e detalhes da viatura ficam disponíveis no telemóvel do cliente. A tarifa que é aplicada em cada uma das cidades onde a aplicação está activa pode ser consultada, bem como uma estimativa de quanto custará a viagem. Está prevista ainda a partilha da viatura. No destino, a tarifa é automaticamente cobrada no cartão de crédito do utilizador, ficando pouco espaço para gorjetas.