Regulador britânico abre investigação a estudo psicológico do Facebook
Gabinete de protecção de dados vai questionar responsáveis pela experiência, que envolveu quase 700 mil utilizadores e que tem sido posto em causa por razões éticas.
O estudo envolveu 689.003 utilizadores daquela rede social, que ao longo de uma semana foram expostos a conteúdo menos negativo ou menos positivo do que o habitual nos seus feeds, para averiguar se existia um “contágio emocional”. O que se verificou, ainda que de forma pouco significativa, foi que o comportamento dos utilizadores testados se alterava.
Os resultados foram publicados na revista Proceedings of the National Academy of Sciences de 17 de Junho, num artigo assinado por três investigadores: Adam Kramer, do Facebook; Jamie Guillory, da Universidade da Califórnia; e Jeffrey Hancock, da Universidade de Cornell.
Os internautas e, sobretudo, a comunidade académica insurgiram-se contra o estudo, por os autores terem manipulado seres humanos sem o seu “consentimento informado”, como exige a lei nos EUA. Agora, o ICO quer ouvi-lo da boca dos responsáveis do Facebook: a experiência foi realizada sem o conhecimento dos sujeitos envolvidos? E quanta informação pessoal foi usada?
Estas são as questões avançadas por um porta-voz do ICO ao Financial Times, que dá nesta quarta-feira a notícia sobre a abertura do inquérito. A mesma fonte diz que ainda é cedo para saber que parte da lei o Facebook pode ter infringido, e adianta que o ICO vai trabalhar neste caso com o seu congénere na Irlanda, onde estão sediados os escritórios da empresa na Europa.
O director de políticas do Facebook para a Europa, Richard Allan, diz estar disponível para responder a todas as dúvidas. Citado pelo jornal inglês, Allan assegura que o estudo foi executado com “protecções apropriadas”. “É evidente que as pessoas ficaram chateadas com este estudo e assumimos a responsabilidade por isso. Queremos melhorar no futuro e estamos a aperfeiçoar o nosso processo com base neste feedback.”
A empresa tem justificado a ausência de pedidos directos de consentimentos aos utilizadores com a política de utilização de dados, que todos têm de aceitar antes de criar um perfil na rede social. Todavia, a revista Forbes reparou que o texto foi alterado em Maio de 2012, quatro meses após o teste, para passar a prever o uso dos dados para “análise”, “teste” e “pesquisa”.
“Sugerir que conduzimos qualquer investigação corporativa sem autorização é uma completa ficção. As empresas que querem melhorar os seus serviços recorrem à informação que os seus clientes fornecem, quer a sua política de privacidade use a palavra ‘pesquisa’ ou não”, respondeu um porta-voz do Facebook, segundo a mesma revista.