Qamine, ou como lançar uma start-up quase sem dinheiro

O serviço ajuda programadores informáticos a corrigirem erros no código que escrevem. Criado praticamente sem dinheiro, foi seleccionado pelo fundo de capital de risco Seedcamp e está entre os finalistas de um concurso europeu de start-ups.

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Jaime Jorge teve a ideia quando trabalhava na tese de mestrado Nuno Ferreira Santos

Chamado Qamine, trata-se de um serviço para ajudar programadores informáticos a encontrarem erros no seu trabalho. Foi sendo desenvolvido com calma e sem grandes saltos: sem candidaturas a concursos de apoio ao empreendedorismo, sem investimento de capital de risco e sem haver sequer uma empresa constituída. Tudo isto implicaria que este licenciado em engenharia informática tivesse de pensar em muitas outras coisas que não desenvolver o produto. O objectivo era criar primeiro, ver depois se havia interessados e perceber o potencial de receitas – tudo isto antes de começar a pensar em gastar dinheiro a sério.

A ideia surgiu durante a tese de mestrado, no Instituto Superior Técnico, em Lisboa. Foi nessa altura que criou um protótipo e o mostrou a algumas pessoas, que gostaram do que viram e sugeriram funcionalidades. O conceito foi sendo desenvolvido, com a ajuda de alguns colegas de curso. A maior parte do trabalho foi feita com o outro co-fundador, João Caxaria, de 32 anos. Inicialmente, era tudo feito em part-time, já que ambos tinham empregos (durante o mestrado, Jaime Jorge trabalhava também como informático no Técnico).

Recusar empregos em nome de uma aposta
Jaime Jorge acabou por instalar-se na incubadora start-up Lisboa. Isto significou trabalhar no projecto a tempo inteiro, recusar algumas oportunidades de trabalho (“um engenheiro informático pode ganhar entre 1000 e 1200 euros” no primeiro emprego) e viver “com muito pouco dinheiro”. Ia de bicicleta da casa da mãe, em Benfica, para o centro da cidade. Almoçava sandes. Hoje, diz que não ter procurado investidores ajudou a que o projecto tivese sido seleccionado pelo Seedcamp: “Eles pensaram: ‘se eles conseguiram fazer isto sem dinheiro, vamos ver o que conseguem fazer com dinheiro”. Os montantes envolvidos não podem ser revelados, mas tipicamente o Seedcamp faz um investimento até 50 mil euros em troca de uma participação minoritária na start-up.

O Qamine é um produto destinado a empresas. Tenta ajudar programadores a identificar erros (“bugs”, na gíria informática) nas linhas de código. Quando um programador detecta um erro, o Qamine vasculha o resto do código (em muitos casos, podem ser dezenas ou centenas de milhares de linhas) e identifica situações semelhantes em que o mesmo problema tenha de ser corrigido.

“Quarenta e cinco por cento das vezes em que um bug é detectado, é preciso corrigi-lo noutro lado do código”, diz Jaime Jorge. De onde vem esse número? “São dados da concorrência”. A ideia de automatizar tarefas de correcção de código não é nova. A aposta desta start-up é disponibilizar este serviço para quem guarde o código em repositórios online e não queira instalar o sistema nos computadores da empresa (embora também disponibilize essa opção). É mesmo possível criar uma conta gratuita e pagar apenas por cada bug encontrado. Para além de ter sido seleccionado pelo Seedcamp, o Qamine está na lista de finalistas do concurso europeu de start-ups The Europass, cujos vencedores serão conhecidos na próxima semana, em Berlim.

Os dois fundadores estão agora em Londres, onde João Caxaria já trabalhava, a tratar da burocracia para montar a empresa. Potenciais investidores preferem companhias com sede no Reino Unido ou nos EUA, cuja legislação já conhecem. Nos próximos meses, serão levados a uma visita aos EUA, para “conhecer o ecossistema de start-ups” no país que normalmente serve de inspiração ao empreendedorismo tecnológico. E vão participar em acções de formação. “Vamos levar bofetadas até sermos uma start-up de topo”, antecipa Jaime Jorge, sorridente.
 

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