Plataforma para financiar start-ups abre-se à Europa
A Seedrs, co-fundada por um português, permite que qualquer pessoa invista numa empresa. Este ano, foram investidos através do site cerca de 2,6 milhões de euros.
A plataforma abre as portas do financiamento de risco, uma actividade tipicamente restrita a investidores profissionais, que têm acesso a capital, conhecem o meio e sabem navegar pelos meandros legais. Até agora, o serviço podia ser usado apenas em Inglaterra. Foi lançado em meados de 2012, tem 25 mil utilizadores registados (embora nem todos tenham financiado projectos) e o dinheiro angariado na plataforma aumentou este ano 600% face ao ano passado: desde Janeiro, foram angariados através da Seedrs um pouco mais de 2,2 milhões de libras, cerca de 2,6 milhões de euros.
A empresa foi fundada em 2009, pelo português Carlos Silva, presidente e director de operações, e pelo americano Jeff Lynn, que é o director executivo. Conheceram-se num MBA em Oxford. Carlos Silva fora estudar para Inglaterra com a ideia de montar uma empresa. Nessa altura, percebeu que obter o financiamento inicial é um obstáculo grande para empreendedores, mesmo que as quantias necessárias sejam pequenas. E foi então que surgiu a ideia. Hoje, a Seedrs emprega 17 pessoas, distribuídas entre em Londres (onde está a sede) e Lisboa, onde trabalha a maior parte da equipa.
Investir 12 euros
Para quem investe através da Seedrs, todo o processo decorre online. As start-ups apresentam o negócio na plataforma, dizem quanto pretendem angariar (frequentemente, algumas dezenas de milhares de libras) e que parcela da empresa estão dispostas a dar em troca. Os utilizadores podem investir tão pouco como dez libras (cerca de 12 euros), ficando com uma participação na empresa correspondente ao investimento feito. Se a start-up conseguir angariar a totalidade dos fundos que pretende, a Seedrs cobra uma comissão de 7,5%.
Por mês, a plataforma recebe entre 50 e 60 candidaturas de empresas que querem angariar dinheiro. Selecciona cerca de metade. Não é avaliada a possibilidade de sucesso (tarefa que fica para os investidores), mas os responsáveis fazem alguma triagem e tentam garantir que a informação que os empreendedores apresentam é correcta.
Rentabilizar o investimento feito numa start-up implica tipicamente esperar alguns anos e Carlos Silva não esconde que o risco é grande. A Seedrs ainda não tem nenhum caso de sucesso para contar, algo que o fundador espera que aconteça num prazo de “três a cinco anos”. Já os insucessos “garantidamente acontecem mais cedo”.
A internacionalização da plataforma vai agora permitir a qualquer pessoa na Europa fazer investimentos. Mas ainda há limitações. Todas as transacções são feitas em libras, embora haja planos para integrar a possibilidade de usar euros. Por outro lado, as start-ups que quiserem usar a Seedrs têm de ter sede no Reino Unido. É um processo rápido e barato, assegura Carlos Silva, depois do qual a empresa inglesa pode ser detentora da empresa que já tiver sido registada noutro país. Na prática, diz, “tem poucas implicações para as start-ups, que podem estar em qualquer sítio” (recentemente, algumas start-ups portuguesas transferiram-se para Inglaterra, precisamente para poderem ter acesso a capital de risco).
A Seedrs não dá lucro. “As receitas que temos são insignificantes para o que queremos”, diz Carlos Silva, apontando para “daqui a um ano” o ponto em que a empresa deixará de dar prejuízo. Por ora, conta com múltiplos investidores, desde o antigo senhorio de Carlos Silva em Inglaterra, até amigos, familiares e investidores profissionais. Pela primeira vez, está em negociações com um grupo de capital de risco português, que pondera participar numa ronda de investimento na qual pelo menos 12,6% da empresa serão entregues a troco de 750 mil libras, números que colocam o valor da companhia em quase seis milhões.
A oportunidade de financiamento foi aberta a investidores institucionais, que deverão representar 40% a 50% do capital nesta ronda. Mas qualquer pessoa poderá usar o próprio site da Seedrs para comprar também um pouco da empresa.