Para uma loja portuguesa de aplicações, a luta com o Google “foi uma bênção”
Aptoide chegou a 51 milhões de utilizadores em 2014 e começou este ano a dar lucro.
“A queda [da publicidade] do Google foi uma bênção. Desenvolvermos a nossa rede de publicidade. Acabámos o ano passado a fazer 90 mil dólares [82 mil euros, ao câmbio actual] por mês”, explica Paulo Trezentos, presidente executivo e um dos fundadores. A conversa foi em Lisboa, nos escritórios da empresa, um espaço relativamente pequeno, com filas de secretárias do estilo Ikea, uma sala de reuniões com paredes de vidro e uma cabine telefónica cor de laranja, pensada para telefonemas que precisem de mais privacidade.
A Aptoide é uma loja de aplicações para smartphones e tablets Android, alternativa ao Google Play. Está longe de ser a única do género. Grandes empresas como a Amazon e a Samsung também têm as respectivas lojas. E há uma miríade de outras, para satisfazer todo o tipo de necessidades. Algumas só têm aplicações gratuitas, outras não cobram aos criadores.
Uma das funcionalidades da Aptoide permite que qualquer pessoa ou empresa crie a sua própria loja, com aplicações seleccionadas a partir da loja central. Funciona de forma semelhante ao YouTube, que deixa os utilizadores criarem canais próprios.
A equipa de Paulo Trezentos também cria lojas de aplicações à medida de outras empresas. Normalmente, isto envolve o desenvolvimento de uma funcionalidade específica. Alguns operadores de telecomunicações, por exemplo, querem que as compras de aplicações sejam debitadas na factura de telemóvel. Nestes casos, a Aptoide faz um acordo de partilha de receitas com os clientes. Entre estes, estão o grupo Auchan (dos supermercados Jumbo e que tem uma marca própria de aparelhos electrónicos), a Jolla, uma equipa de dissidentes da Nokia que fabrica telemóveis e tablets de nicho, e a Unitel, um operador de telecomunicações da Mongólia.
Ao longo de 2014, a Aptoide teve 51 milhões de utilizadores, de acordo com números da própria empresa. Os principais mercados são os EUA e o México. Em cada um destes países estão cerca de 12% dos utilizadores. Surgem depois Espanha e Itália, com 8% cada. Em crescimento estão dois mercados emergentes: o Brasil e a Índia.Aposta na publicidade
O negócio passa sobretudo pela publicidade. “Não acreditamos muito nas aplicações pagas”, diz Paulo Trezentos. O problema é bem conhecido de quem cria aplicações. Com a profusão de aplicações gratuitas, convencer as pessoas a desembolsar dinheiro tornou-se muito mais difícil. Muitos criadores decidiram optar pela estratégia das compras dentro de aplicações - por exemplo, cobram por novos níveis de jogos ou por funcionalidades extra. Também há quem distribua aplicações gratuitas como chamariz para uma versão mais completa e paga.
A Aptoide nasceu em 2009, dentro de uma outra empresa de Paulo Trezentos, a Caixa Mágica, responsável por uma distribuição de Linux com o mesmo nome, que chegou a equipar os portáteis Magalhães. No final de 2011, o projecto Aptoide transformou-se numa empresa autónoma.
Em Junho do ano passado, a Aptoide apresentou uma queixa junto da Comissão Europeia, em que alegava que a multinacional tinha práticas anti-concorrenciais e dificultava a instalação desta loja. Já em Fevereiro, a empresa queixou-se no seu blogue de que o Google estava a assinalar a Aptoide como sendo uma aplicação que devia ser desinstalada, por poder ser usada para obter informação indevidamente.Contactado pelo PÚBLICO, o Google não comentou as queixas, mas remeteu para uma página sobre o sistema Android em que escreve que os utilizadores podem usar as lojas que quiserem e distribuir aplicações de várias formas, incluindo por email e através de sites (ao contrário do que acontece com a Apple e a Microsoft, em que a distribuição de aplicações deve ser feita através das respectivas lojas, cujas aplicações são verificadas antes de serem disponibilizadas). Afirmou também que a loja não está a ser assinalada como uma aplicação maliciosa, um processo que é automatizado.Os planos da Aptoide para 2015 passam por duplicar as 25 pessoas que actualmente emprega e por ter funcionários fora de Portugal. A ideia é criar um pequeno escritório de uma ou duas pessoas na China (para estar perto dos fabricantes de aparelhos) e outro semelhante nos EUA (para chegar aos criadores de aplicações). Paulo Trezentos diz-se optimista. “Temos duplicado o número de utilizadores e as receitas todos os anos. O mercado de Android não está a dobrar”.