Estudo conclui que emoções expressadas online são contagiantes
As emoções manifestadas por uma pessoa no Facebook podem provocar os mesmos sentimentos numa outra.
O estudo de investigadores das universidades da Califórnia e Yale e do Facebook, determinou que, à semelhança de um contacto frente a frente entre duas pessoas, uma interacção online permite que uma emoção descrita num post por uma pessoa passe a ser sentida e partilhada por outra que o lê. O que se torna mais difícil de concluir é se as essas correlações resultam na passagem de emoções a terceiros, através de uma espécie de contágio, ou se ocorrem por ter sido escolhida uma pessoa ou grupos que naquele momento partilham as mesmas emoções de quem emite o sentimento.
James Fowler, professor de medicina genética e de ciência política na Universidade da Califórnia e um dos autores do estudo, explicou ao Wall Street Journal que, acima de tudo, o objectivo do estudo foi determinar “se as alterações emocionais numa pessoa provocam alterações emocionais noutra”. “E foi isso que encontrámos”, afirmou.
Para o estudo, divulgado na revista científica Plos One, foram analisadas milhões de mensagens publicadas no Facebook entre Janeiro de 2009 e Março de 2012, num total de 1180 dias. Para cada dia foram analisados mais de 100 milhões de utilizadores de 100 das cidades mais populosas dos Estados Unidos e observadas as actualizações feitas nas suas cronologias. Aqui, foram apenas escolhidas as mensagens que pudessem ser consideradas uma manifestação pessoal, deixando de fora quaisquer formas directas de comunicação no Facebook.
Os investigadores garantem que não houve qualquer acesso à informação pessoal dos utilizadores, tendo o Facebook tornado anónima a origem de todos os dados usados. Para a sua busca, os investigadores recorreram a um sistema de análise de texto automatizado para que não tivessem acesso ao conteúdo das mensagens escritas mas apenas a palavras que traduzissem emoções negativas ou positivas, como triste ou contente.
A felicidade é mais contagiante que a tristeza
Para analisar as alterações nas emoções de uma pessoa e se essas mesmas alterações tiveram impacto num amigo no Facebook, os investigadores utilizaram como instigadora a queda de chuva. Porém, foram excluídos posts que se referiam directamente ao estado do tempo. “Queríamos mensagens em que chovia no local onde estava o utilizador, mas que o levasse a escrever posts negativos que não fossem sobre a meteorologia”, explicou James Fowler também ao Wall Street Journal.
O estudo concluiu que, em média, um dia de chuva diminuiu em 1,19% o número de posts positivos dos utilizadores, mas aumentou o número das mensagens negativas em 1,16%, diferenças percentuais pequenas mas consideradas “significativas” pelos investigadores.
Ao escrever um post emocionalmente negativo, o utilizador acabou por influenciar um ou dois amigos noutras cidades onde o tempo estava seco, por exemplo. Assim, enquanto cada mensagem positiva resultou num aumento de 1,75% de posts positivos escritos pelos amigos do autor do post, mensagens em que foi manifestada tristeza levaram, por sua vez, à criação de mais 1,29% posts negativos.
O estudo dá ainda o exemplo de dados recolhidos sobre um dia de chuva em Nova Iorque. A queda de chuva provocou directamente mais 1500 posts negativos entre utilizadores nova-iorquinos e cerca de 700 negativos entre os seus amigos que escreviam a partir de outra cidade.
“Por outras palavras, o efeito total da queda de chuva na expressão de emoções é cerca de 150% maior do que esperaríamos se fosse apenas medido o efeito directo nos utilizadores e ignorado o efeito indirecto nos seus amigos”, escrevem os investigadores. “E, de forma intrigante, apesar de a chuva ser o ímpeto para este contágio, as mensagens positivas parecem ser mais contagiantes que as negativas”, sublinham.
“Este é o primeiro estudo que demonstra que o mundo online pode estar a criar uma sincronia emocional global. Isso significa que devemos esperar e prepararmo-nos para uma maior volatilidade nas coisas que são afectadas pelas emoções, como sistemas políticos ou mercados financeiros", defende o documento publicado na Plos One.