É na Terra, não é na Lua é de outro planeta
Gonçalo Tocha partiu, qual explorador, à descoberta da ilha do Corvo, Açores: 17 quilómetros quadrados, 440 habitantes, a mais pequena ilha do arquipélago. Permaneceu perto da aventura de infância, não limpando a neblina da fantasia e do mito. E é por isso que ver É na Terra, não é na Lua - chamam-lhe documentário porque não há formato que verdadeiramente lhe sirva - é mergulhar nas páginas de uma aventura mítica, é acompanhar o mundo a acontecer: com um sentido de maravilhamento e de espanto que já falta ao cinema e que transforma em cobardia essa coisa a que chamam "audiovisual". Filme único, pode ser único também porque Tocha, 32 anos, diz que não sabe se fará outro a seguir - mas já tinha dito o mesmo em 2007, na altura da sua estreia com Balaou, obra premiada no IndieLisboa desse ano. Filme único, na verdade, porque o cinema aqui é um gesto de arrebatamento e descoberta. Ou seja: este filme é mesmo de outro planeta. Serve isto para avisar que É na Terra, não é na Lua aterra nas salas portuguesas na próxima semana (e serão tempos de arrebatamentos portugueses, os próximos, com a chegada de Tabu, de Miguel Gomes, e de A Vingança de Uma Mulher, de Rita Azevedo Gomes), depois de em 2011 ter sido premiado no DocLisboa e no Festival de Locarno e de ter sido incluído, num ciclo dedicado pelo Museum of Moving Image de Nova Iorque, ao "groundbreaking international cinema" - Tocha na companhia de Chantal Akerman, Philippe Garrel ou Johnnie To não é para todos; mas o filme é. Vasco Câmara