Um quarto da população portuguesa vai ter mais de 60 anos “muito brevemente”

Há quase 800 mil alojamentos em Portugal habitados por pessoas com mais de 65 que vivem sós. Um aumento de 28% em dez anos

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Quase 28% de idosos vivem sozinhos ou com outros idosos João Cordeiro

O crescimento do número de idosos a viver sós verificou-se em todas as regiões do país. Mas o maior crescimento foi na Madeira (49%), seguindo-se as regiões de Lisboa, Norte e Algarve. Em Portugal, contavam-se em 797.851 alojamentos familiares habitados exclusivamente por pessoas idosas, em 2011. Eram já cerca de 20% do total de alojamentos ocupados, o que representa um acréscimo de 28,3% nos últimos dez anos.

Quanto ao peso na população total, o INE contou em 2011 2.023 milhões de portugueses com 65 e mais anos de idade. Eram 19% da população total, sendo que, na década anterior, o crescimento dos idosos fora também de 19%.
Com o país a perder cerca de 100 mil pessoas por ano para a emigração, o mais provável é que o cenário se tenha agravado desde então. Do mesmo modo, 2012 e 2013 foram marcados por recordes negativos em termos de natalidade: no ano passado nasceram apenas 82.538 crianças, menos 7303 do que no ano anterior.

É uma realidade que, na opinião dos especialistas, torna optimistas as projecções mais recentes sobre a população portuguesa nas próximas décadas. A Pordata calculava em 2012 que, por volta de 2030, um em cada quatro portugueses terão 65 ou mais anos de idade. Ou seja, os idosos serão o dobro dos jovens até aos 15 anos de idade. Em 2050, passarão para o triplo. Há três anos, a ONU admitia no seu World Population Prospects que os portugueses poderão ficar reduzidos a 6,7 milhões em 2100. Em 2060, apontava também o INE, haverá cerca de três idosos por cada jovem.

“Reformar a reforma”
Quanto aos idosos com 80 e mais anos de idade, o INE calculava que poderão representar entre 12,7% e 15,8% do total da população em 2060, por via do aumento da esperança média de vida.

Apesar de, descontadas algumas diferenças de método e o maior ou menor optimismo dos indicadores de base, estas diferentes projecções apontarem para a certeza inabalável de que Portugal vai continuar a envelhecer nas próximas décadas, o país continua a funcionar segundo um modelo pensado para uma estrutura etária jovem. “É preciso reformar a reforma”, apela a socióloga Ana Fernandes, para quem não faz sentido que a sociedade continue a organizar-se partindo do pressuposto de que as pessoas primeiro estudam, depois trabalham e depois reformam-se.

“O ciclo de vida das pessoas deixou de estar arrumadinho nessas três partes: estudo, trabalho e reforma. É muito mais turbulento, as pessoas entram no mercado de trabalho, saem para voltar a estudar, voltam ao trabalho, têm filhos com intervalos maiores”, diz. “Era preciso flexibilizar o sistema contributivo, porque, mesmo que se consiga inverter os actuais indicadores de fertilidade, muito brevemente um quarto da população portuguesa vai ter mais de 60 anos.”

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