Quedas de doentes foram os principais incidentes notificados por profissionais de saúde
Direcção-Geral da Saúde diz que o número total de eventos registados "está ainda longe de reflectir a realidade nacional".
Em Portugal escasseiam os dados sobre o erro clínico (que inclui os médicos mas também outros profissionais de saúde). No primeiro estudo sobre eventos adversos realizado em Portugal, em 2011, investigadores da Escola Nacional de Saúde Pública, em Lisboa, chegaram à conclusão que, em 11,1% das admissões hospitalares analisadas, houve um evento adverso, definido “como um acontecimento não intencional” que teve alguma consequência para o doente, como danos ou lesões, ou o prolongamento do internamento, ou incapacidade permanente ou temporária ou mesmo a morte.
O sistema nacional de notificação, que é gerido pela Direcção-Geral de Saúde (DGS), pretende que os erros sejam notificados de forma confidencial, quer por profissionais de saúde quer por cidadãos, de modo a que possam ser analisados caso a caso e que as equipas possam aprender com o erro, lê-se no documento. Qualquer pessoa pode notificar na plataforma online.
No primeiro balanço anual deste sistema feito pela DGS, referente a todo o ano de 2013, admite-se que “o número total de notificações registadas está, ainda, longe de reflectir a realidade nacional”, notando-se que a DGS está a desenvolver reajustes na plataforma “para aumentar a adesão”.
Os profissionais de saúde notificaram 244 incidentes (sem dano para o doente) e eventos adversos (com dano para o doente), mas não se distingue entre as duas situações. Os casos mais registados foram “acidentes do doente” (57), representando mais de um quinto das notificações, dentro destes estão sobretudo “quedas” de doentes (45). No estudo da Escola Nacional de Saúde Pública as quedas também estavam no topo dos problemas.
A seguir, na lista dos registos efectuados pelos profissionais, estão questões relativas ao comportamento (46 situações, representando 19% dos registos) e, de seguida, incidentes relacionados com processo/procedimento clínico (41 casos), incidentes relacionados com a medicação ou fluídos intravenosos (30 casos, o que representa 12% do total), questões relacionadas com dispositivo/equipamento médico foram 19. O processo administrativo (admissão, marcações, referenciação) surge a seguir, com 14 situações.
Já no caso dos cidadãos os cuidados de saúde (diagnóstico, tratamento, intervenção cirúrgica, exames) surgem no topo, com 30 notificações. Os acidentes do doente surgem em segundo lugar, com 15 situações que se subdividem em sete situações “de queda do doente (da cama, do cadeirão, ou no banho, etc)” e oito acidentes envolvendo “contusão, corte, queimadura, intoxicação, etc”. As infecções associadas aos cuidados de saúde (infecções no local da intervenção, do cateter urinário, etc,) correspondem a nove registos.
Uma das questões mais polémicas deste sistema era o anonimato do médico e doente, quando podiam estar em causa situações de negligência ou de erro clínico. Os responsáveis explicaram, na altura, que nas situações detectadas nas unidades, ou objecto de queixa, em que exista responsabilidade disciplinar ou criminal estas seguirão o curso normal na Inspecção Geral das Actividades em Saúde. O objectivo da DGS com esta plataforma é reforçar a cultura preventiva no SNS, pretendendo-se que cada notificação dê azo a medidas correctivas.
Num estudo-piloto de Avaliação da cultura de segurança do doente em hospitais portugueses, feito pela DGS em 2011, 73% dos profissionais de saúde inquiridos em sete hospitais diziam não notificar incidentes.