Que fazer na escola?

Na recente campanha eleitoral pouco se falou da escola. Enquanto aguardamos o novo governo, é importante que nos detenhamos sobre o que se passa no quotidiano do nosso ensino básico e secundário.

Nas creches e sobretudo nos jardins-de-infância, é visível a escassez de estabelecimentos da rede pública. Muitos pais são assim forçados a sacrifícios para colocarem os filhos no ensino pré-escolar privado, já que ambos os progenitores trabalham. As crianças passam muitas horas na escola, sendo pouco estimulado o recurso à observação, à pesquisa individual e em grupo, ao desporto e às artes.

No 1.º ciclo a situação agrava-se. O Governo ainda em funções impôs metas de aprendizagem muito rígidas, sem ter em conta o contexto escolar, o desenvolvimento das crianças e, sobretudo, as dificuldades de aprendizagem que muitas evidenciam. Ao impor o número de palavras que devem ser lidas num determinado tempo, estamos a condicionar professores e alunos a um ritmo que não está ao alcance de todos, sem que haja uma resposta adequada junto daqueles considerados mais “lentos”. Por outro lado, o trabalho junto dos pais é muito escasso, quer por indisponibilidade dos progenitores, quer por falta de preparação dos educadores de infância nos problemas das famílias de hoje.

No 2.º e 3.º ciclos do ensino básico, a situação é preocupante. A indisciplina é quase sempre a regra e a escola não sabe lidar com alunos instáveis. Grande parte do tempo lectivo é gasta em admoestações por parte dos docentes, com os alunos cada vez mais indiferentes aos castigos tradicionais (faltas e suspensões). O ensino artístico e o desporto são pouco valorizados, ou por falta de recursos ou porque se entende que não é fundamental para os mais novos. Como há muito está demonstrado noutros países, o desporto escolar, a música e o teatro desempenham um papel fundamental no progresso de alunos com dificuldades. Aqui não: a nossa escola contenta-se com algumas aulas de música dispersas e não valorizadas no currículo, somadas a uns jogos nas aulas de Educação Física, disciplina que no secundário nem conta para a avaliação final.

Não se entende como o desporto, tão valorizado pela maioria dos jovens, ocupa um lugar tão modesto no quotidiano das nossas escolas. Não parece difícil melhorar, estabelecer protocolos com clubes desportivos, abrir a escola a atletas de várias modalidades que possam servir de referência desportiva, estimular alunos de insucesso a verem valorizado o seu bom desempenho desportivo. Não se compreende como tantos talentos para o teatro, a dança e a música, tão visíveis em adolescentes, possam ser desperdiçados por falta de estímulo no estabelecimento de ensino de origem, ou por escassez de apoio para o ensino articulado.

No secundário, a indisciplina permanente por vezes é disfarçada pelo desempenho de alguns bons alunos, no seu esforço para garantir boas classificações. A seu lado estão alunos desatentos e sonolentos, com pouca motivação para aprender e que, na escola, só gostam do intervalo e dos amigos.

No secundário existem muitos problemas de saúde mental, mas a escola não lhes sabe dar resposta, nem a maioria dos serviços públicos de saúde está preparada para uma intervenção específica. Ao diminuir o espaço de reflexão extracurricular e ao não valorizar a preparação dos professores em Educação para a Saúde, o Ministério da Educação só contribuiu para o adensar do problema.

Precisamos mudar.

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