Quase um terço dos novos casos de infecção por VIH/sida são diagnosticados no último estádio da doença
Casos de transmissão heterossexual e entre toxicodependentes estão a descer, ao contrário dos casos entre a população homossexual e bissexual, em que são feitos diagnósticos em idades cada vez mais jovens.
Em 2012 foram notificados em Portugal 1551 novos casos de infecção, mas só 776 são de casos diagnosticados no próprio ano. Os restantes foram notificações feitas com atraso e que dizem respeito a detecções de anos anteriores.
Um dos dados considerados mais relevantes é o facto de quase um terço (31,8%) dos infectados terem sido detectados já “no último estádio da doença, o mais avançado”. Isso signfica que são pessoas que já têm pelo menos uma doença associada que é indiciadora de um sistema imunitário deprimido, explicou ao PÚBLICO a coordenadora do relatório, que retrata a situação até ao final do ano passado, Helena Cortes Martins, investigadora do Núcleo de Vigilância Laboratorial de Doenças Infecciosas do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (Insa).
Mas a maioria dos casos notificados encontravam-se assintomáticos à data de diagnóstico (50,4%) e 17,8% foram classificados como portadores sintomáticos mas ainda não com sida.
Nos casos de sida, a tuberculose é a patologia mais frequente, mas tem havido um aumento do número relativo de casos que referem pneumonia.
Contrariamente a outros países europeus, em Portugal não se observou um decréscimo acentuado no número de casos de sida após a introdução, no final dos anos 1990, da terapia anti-retroviral combinada, verificando-se uma estabilização até 2002, ano a partir do qual se iniciou então uma tendência decrescente. Hoje em dia, “os casos de sida continuam, lentamente, a diminuir”, assinala a investigadora.
Helena Cortes Martins refere que a proporção alta, verificada no ano passado, de pessoas que chegam aos serviços de saúde já na fase final da doença “é um sinal de alerta”, uma vez que incluem casos de diagnóstico tardio, o que aponta para a necessidade de aumentar “as políticas de diagnóstico”, mas também casos de pessoas que estão a ser seguidas e medicadas e que, mesmo assim, evoluíram para o estádio sida. A idade média dos diagnóstico de sida é de 37,6 anos.
A investigadora diz que estes dados devem ser o ponto de partida, o importante agora é perceber a sua explicação. No caso dos diagnósticos tardios refere que tendem a ser mais frequentes em heterossexuais, porque têm menos consciência dos riscos que correram e a fazer menos os testes, em contraste com a população bissexual e homossexual, que costuma fazer mais vezes os teste VIH, até porque isso, muitas vezes, condiciona a escolha do parceiro, uma tendência detectada em vários estudos europeus, refere.
Mais jovens homossexuais
Mas os dados deste relatório denotam, ainda assim, que é na população de homens que têm relações sexuais com homens que a infecção por VIH está a aumentar: a transmissão homo/bissexual corresponde a 34,1% dos casos diagnosticados em homens. Uma análise feita no relatório, de 2005 e 2011, atesta uma redução de 79,2% nos casos relacionados com o consumo de drogas e de 21,3% nos casos associados à transmissão heterossexal; já os casos de transmissão homo/bissexual aumentaram 33,1% no mesmo período.
Embora esta costume ser uma população mais informada em relação aos riscos de transmissão, os dados mostram que tem vindo a descer a idade do diagnóstico. “É gente nova com diagnóstico em idades mais jovens. A informação pode não estar a surtir efeito, são muitos infectados e jovens”, alerta.
O relatório sublinha ainda que cerca de um quarto dos novos casos de infecção por VIH são de estrangeiros (28,4%), uma proporção que tem vindo a aumentar, à semelhança do que acontece com outros países europeus, em que a proporção de infectados pode chegar a ser metade do total, ressalva a investigadora. “Portugal está dentro da média europeia.”
Em primeiro lugar nesta lista surgem pessoas originários de países da África subsariana, seguidos de indivíduos da América Latina. Helena Cortes Martins nota que estes dados devem “servir de motor para se investigar o porquê”: há questões culturais que impedem a passagem de mensagens de prevenção? Há eventuais barreiras na chegada das pessoas aos serviços de saúde?, questiona.
No ano passado morreram 139 pessoas por infecção por VIH/sida.