Quase 20% dos universitários da zona Centro não usaram preservativo em relações ocasionais

Estudo questionou mais de 1300 jovens. Só 10% já tinham feito alguma vez ao longo da vida um teste para o VIH/sida.

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Nos grupos com formação os comportamentos melhoraram no período de 36 meses analisado Miguel Manso

O trabalho realizado por Aliete Cunha-Oliveira, no âmbito de uma bolsa de investigação para o seu doutoramento em Ciências da Saúde pela Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, contou com uma amostra de 1303 alunos do primeiro ano das universidades da região Centro, com idades ente os 18 e os 24 anos. Os dados recolhidos através de um questionário preenchido pelos próprios alunos numa sala de aula, na presença do professor e da investigadora, permitiram perceber que 69,4% dos jovens tinham já iniciado a sua vida sexual, em média aos 16,5 anos.

O questionário adiantou, ainda, que a média de parceiros sexuais era de 2,26, um número que baixa para 1,31 nos últimos 12 meses. Mais de 10% dos participantes relataram também que já tiveram pelo menos uma doença sexualmente transmissível e 21,6% referiram ter tido relações sexuais sob o efeito de álcool ou de outras drogas.

A bolseira da Fundação para a Ciência e a Tecnologia explica que os dados dos alunos de Coimbra, Aveiro e Covilhã estão em linha com os de outros estudos nacionais e internacionais, mas destaca uma fonte de preocupação: apesar de 84,8% dos participantes terem já sido alvo de programas de prevenção, só 27% se recordavam da última campanha a que assistiram. Um valor que a juntar-se à baixa adesão aos testes de VIH faz com que Aliete Cunha-Oliveira alerte para o risco do país continuar sem fazer diagnósticos atempados desta doença, que em 58% dos casos só é descoberta tardiamente.

Uma outra fase do estudo conduzido entre 2009 e 2013 focou-se precisamente nestes programas de redução do risco de VIH/sida. Com a amostra foram constituídos dois grupos de 226 alunos. O primeiro foi sujeito a quatro sessões de formação, duas vezes por semana, com duas horas de duração cada. As sessões deram ênfase aos contextos, interacções sexuais e “elementos motivacionais e comportamentais importantes para a mudança do comportamento” perante o VIH/sida. Os resultados foram medidos com um teste aplicado antes do programa, seis meses após o programa e, por fim, 36 meses depois. No segundo grupo não houve nenhum programa, mas a medição foi feita nos mesmos prazos.

Quanto a resultados, Aliete Cunha-Oliveira destaca ao PÚBLICO que, apesar de a melhoria dos indicadores do grupo onde houve intervenção ter sido moderada, nos jovens que não foram sujeitos a nenhuma formação registou-se “um agravamento dos mesmos indicadores” medidos ao longo de 36 meses, pelo que defende que “os resultados parecem, assim, comprovar a utilidade de uma intervenção de curta duração, em grupo”.

“Há a notar as conclusões relativas ao perfil dos que aderiram ao programa de formação, tendo-se verificado que a adesão foi mais acentuada no grupo de alunos dos cursos de saúde, nos que tinham à partida uma maior percepção de risco face ao VIH/sida, nos que já tinham tido relações sexuais e nos que tinham tido menos parceiros sexuais nos últimos 12 meses, ou seja, aparentemente, nos grupos de estudantes que menos necessitavam de formação”, destaca a enfermeira especialista em saúde pública.

A Investigadora do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX (CEIS20) considera, por isso, que é preciso “ultrapassar este viés de adesão e conseguir chamar à intervenção de preferência os que mais precisam dela”, insistindo que “é importante replicar estes estudos a nível nacional e levar a cabo programas de informação e formação sobre os factores de risco e protecção para a infecção VIH”. Aliete Cunha-Oliveira recomenda, ainda, que se tire partido dos jovens que aderem aos programas, defendendo que podem “tornar-se veículos difusores de mensagens preventivas nas suas redes sociais e contribuir para a melhoria dos comportamentos sexuais no mundo universitário”.

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