PSP actuou como o “previsto” mas abre averiguação aos incidentes na Cova da Moura

Direcção Nacional da PSP ordenou averiguação interna. Os agentes, segundo fontes policiais, foram atacados à pedrada na esquadra e agredidos pelo que tiveram de chamar reforços. Corpo de Intervenção foi colocado em alerta.

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O bairro da Cova da Moura Pedro Martinho

O Ministério da Administração Interna já tinha anunciado que a Inspecção-Geral da Administração Interna (IGAI), que fiscaliza a actuação das polícias, iria abrir um inquérito, como o PÚBLICO adiantou na segunda-feira. A IGAI ainda não inquiriu até agora nenhuma testemunha ou qualquer dos agentes envolvidos neste episódio, confirmou fonte daquela inspecção-geral.

Cinco jovens detidos, por alegadamente terem invadido aquela esquadra da PSP, após uma intervenção policial na Cova da Moura, apresentaram na sexta-feira no Ministério Público uma queixa-crime por tortura contra os agentes. A PSP, porém, garante ter actuado nos mesmos moldes que sempre actuou em situações semelhantes.

A “situação ocorrida junto ao bairro” foi “objecto de expediente policial e do tratamento previsto para qualquer situação de acção/intervenção policial, tendo sido comunicada às entidades competentes, designadamente as entidades judiciais”, referiu ainda a PSP.

Duas versões
Um dos advogados dos jovens, André Ferreira, adiantou que requereu a conexão do processo aberto na sequência da queixa ao processo em que os seus clientes são arguidos indiciados por resistência e coacção sobre funcionário.

Na versão de agentes policiais contactados pelo PÚBLICO, tudo terá começado com a detenção de um outro jovem, após uma carrinha da PSP ter sido apedrejada durante uma patrulha no bairro. Um dos vidros da viatura terá ficado partido e logo então a PSP disparou balas de borracha. O jovem foi levado para a esquadra após uma altercação e foi nas instalações da PSP que a violência aumentou. Fontes policiais garantem, como a PSP oficialmente então explicou, que cinco jovens terão tentado invadir a esquadra (também ela atacada à pedrada). Terão empurrado e insultado um agente à porta que terá também sido agredido tendo sido transportado ao hospital com um braço partido.

Os agentes recorreram então à força para travar uma alegada invasão numa altura em que estariam a tratar do expediente em papel necessário para formalizar a detenção. A versão dos jovens é outra: foram apenas perguntar pelo amigo detido, tendo sido recebidos com balas de borracha.

O bairro da Cova da Moura é considerado um bairro problemático estando fortemente marcado pelo seu historial de violência. Em Março de 2013, a Associação Cultural Moinho da Juventude (de que fazem parte alguns dos detidos na quinta-feira) enviou uma carta ao então ministro da Administração Interna Miguel Macedo, revelando “forte preocupação pela rápida escalada de episódios violentos no bairro”.

No texto, ao qual o PÚBLICO teve acesso, a associação considerava que a “intervenção de algumas forças policiais, longe de contribuir para uma melhoria das condições de segurança, tem vindo a assumir contornos cada vez mais provocatórios, intimidatórios e degradantes, que em nada têm vindo a dignificar a sua imagem e estão a ter um efeito mais adverso”. A associação deixava então um conjunto de sugestões ao ministro pedindo-lhe a regularização da “actuação policial”. Questionado nesta segunda-feira, o MAI não esclareceu se tomou medidas no seguimento da recepção desta carta.

Morte de PSP ainda marca o bairro
Os agentes da PSP recordam a morte de um dos seus colegas durante uma patrulha naquele bairro, em Fevereiro de 2014. Ireneu Jesus Gil Dinis, de 33 anos, foi atingido com sete balas e o colega Nuno Saramago só teve tempo de fugir, levando o carro patrulha e a vítima para o Hospital Amadora-Sintra.

Mais de um ano depois, o Tribunal da Boa Hora, em Lisboa, condenou dois jovens a 19 e a 23 anos de prisão efectiva. O tribunal não teve dúvidas de que “dispararam à cabeça para matar”, um total de 25 tiros – 20 de metralhadora e cinco de caçadeira sobre o carro patrulha. Nessa madrugada, milhares de agentes da PSP, revoltados com a situação, recusaram sair em patrulha em todo o país.      

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