}

Professores de Matemática temem que mudanças na disciplina venham a piorar resultados do PISA

Bloco de Esquerda lembra que na Suécia, onde há cheque-ensino, os resultados pioraram. Comissão Europeia está preocupada com desempenho da UE

Foto
Os alunos que estão agora no 7.º ano serão os próximos avaliados pelo PISA Nelson Garrido

Na sua avaliação à literacia dos alunos de 15 anos, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económicos (OCDE) destaca Portugal como um dos poucos países que, tendo participado em todas as avaliações deste 2003, apresenta uma melhoria média em matemática de mais de 2,5 pontos por ano.

Os resultados dos portugueses nas três áreas avaliadas pelo Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA) de 2012 continuam abaixo da média europeia, no entanto a OCDE sublinha a melhoria que se tem vindo a registar no desempenho dos portugueses desde 2003.

Lurdes Figueiral, presidente da APM, considera que este é o resultado do trabalho que vinha a ser realizado nos últimos anos com professores, alunos e currículos de matemática. A responsável lembrou o “grande investimento” feito na formação dos professores de Matemática ou o anterior programa para o ensino básico, que começou a ser aplicado gradualmente em 2007 mas acabou por ser revogado no ano passado. “O trabalho que vinha sendo feito foi agora interrompido”, criticou Lurdes Figueiral, referindo-se à mudança do Programa de Matemática do Ensino Básico, que entrou no passado ano lectivo em vigor.

Para o presidente da SPM, Miguel Abreu, os resultados obtidos são positivos mas é preciso continuar a trabalhar para chegar à média da OCDE. A "esperança" é que os novos programas – o do básico e o futuro do secundário, cuja discussão pública terminou nesta segunda-feira – vão contribuir para essa melhoria, acredita. "Esta mudança é no sentido positivo, o que não significa que tudo o que tenha sido feito foi mau. Os novos programas vão melhorar e permitir que cheguemos à média da OCDE", diz. O objectivo é chegar ao "pelotão da frente" mas para isso é preciso esperar mais uns anos.

Desinvestimento na escola pública, diz BE
A presidente da APM discorda e acredita que “estão criadas as condições para piorar em grande linha os resultados dos alunos portugueses”, nomeadamente o aumento do número de alunos por turma, o crescente descontentamente dos professores e o novo programa.

“Nós tememos muito que as opções feitas com o currículo para o ensino básico, implementado este ano para os 1.º, 3.º, 5.º e 7.º anos, venha a inverter o desempenho dos alunos, porque o PISA testa grandes capacidades matemáticas, que é precisamente o que este currículo agora desvaloriza”, acusou a presidente da APM.

Lurdes Figueiral teme os resultados da próxima prova do PISA, que serão divulgados dentro de três anos: alguns dos estudantes que estão agora no 7.º ano serão os próximos a realizar a prova e estes “sofreram estas alterações curriculares totalmente absurdas”, além de terem tido “três programas diferentes de Matemática no ensino básico”.

Também o Bloco de Esquerda (BE) disse temer uma degradação dos resultados em avaliações futuras. "Hoje o que temos com o actual Governo? Um desinvestimento para metade da escola pública e uma tentativa de destruição da escola pública. Tememos que os resultados que aí venham no futuro sejam bastante inferiores com aquilo que tem sido a actual política educativa", disse o deputado bloquista Luís Fazenda,

Numa alusão à intenção de se alargar, em Portugal, os apoios aos alunos que frequentam o ensino privado, o BE lembrou o exemplo da Suécia, "onde se pratica largamente o cheque-ensino", que foi dos países que mais caiu na avaliação da OCDE.

UE com atraso em matemática
Também a Comissão Europeia reagiu, esta manhã, aos resulados do PISA. E lamenta que a União Europeia (UE), no seu conjunto, registe "um sério atraso em matemática".

Globalmente, o desempenho da UE é ligeiramente melhor do que o dos Estados Unidos, mas ambos estão atrasados em relação ao Japão, lê-se no comunicado que sublinha que em cinco países da UE (Grécia, Hungria, Suécia, República Eslovaca e Finlândia) se tenha verificado um aumento do número de alunos com baixos resultados a matemática. 

Ao contrário do que se passa no relatório da OCDE, o comunicado da UE não destaca Portugal como um dos países onde houve progressos.

Androulla Vassiliou, comissária europeia para a Educação, a Cultura, o Multilinguismo e a Juventude, declarou: "Dou os parabéns aos estados-membros que melhoraram o seu desempenho, mas é claro que a UE no seu conjunto deve empenhar-se mais. Os estados-membros devem manter os seus esforços de luta contra o insucesso escolar no ensino básico e secundário, a fim de garantir que os jovens possuem as competências de que necessitam para ser bem-sucedidos no mundo moderno. Os resultados são um aviso de que o investimento na educação de qualidade é fundamental para o futuro da Europa."