Professores apelam ao boicote às provas nas redes sociais

No Facebook, muitos professores asseguram que não farão a prova de acesso à carreira docente, mas os dirigentes associativos e sindicais admitem a dificuldade de mobilização de docentes em manifestações para além do mundo digital.

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Enric Vives Rubio

“Não adianta de nada dizer-se nas redes sociais que não se vai fazer a prova e depois os que ficarem em casa serem prejudicados por cumprirem a sua palavra. A melhor maneira, a meu ver, é no dia 18 de Dezembro todos os professores fazerem um cordão humano à porta das escolas onde se vão realizar os exames, vedando o acesso às mesmas”, propôs um docente às 12h de quarta-feira no Facebook, hora a que criou o evento “Cordão Humano”, a que ‘aderiram’ em 24 horas mais de 350 pessoas.

César Israel Paulo diz que a organização que dirige “está atenta à vontade dos professores” – naquele “e noutros eventos que vão no mesmo sentido e que estão promovidos nas redes sociais”. Sublinha, no entanto, que tem “aprendido com a experiência que as adesões virtuais aos eventos criados no Facebook, nomeadamente quando estão em causa manifestações públicas, não têm correspondência na participação efectiva”. “Há uma falta de participação cívica muito grande. As pessoas indignam-se, protestam nas redes sociais, mas não vão para a rua”, comentou, apontando como exemplo a acção de protesto esta semana promovida contra a prova pela Federação Nacional de Professores (Fenprof), que “foi pouco participada, apesar de a indignação ser, de facto, imensa”.

Frisando que “sujeitar professores que dão aulas há dez, 15, 30 anos a uma prova de acesso à carreira é um absurdo”, César Israel Paulo diz crer que, de qualquer forma, “a questão do boicote não se chegará a colocar, porque a suspensão da prova será decretada pelos tribunais, na sequência das providências cautelares interpostas pela Fenprof”.

Mário Nogueira, secretário-geral daquela federação sindical, desvalorizou, em declarações ao PÚBLICO, os apelos a boicotes ou a cordões humanos afirmando que os dirigentes da Fenprof “actuam com a responsabilidade de quem está a representar professores e não a mandar uma bocas”. Frisou que a Fenprof já recorreu à Assembleia da República e aos tribunais e questionou: “O que é isso, o boicote? É levar 5000 professores a faltarem por decisão própria, e fazer com que para o ano só os restantes 40 mil possam concorrer para dar aulas?”

Pedro Resende, o professor que convidou os colegas a formarem o cordão humano à volta das escolas em que se realizar a prova afirma que, pelo contrário, a sua iniciativa “visa responsabilizar quem manda umas bocas e depois não cumpre, e dar corpo a uma maneira concreta de no dia 18 sensibilizar quem se apresentar para a fazer, de maneira a unir todos no mesmo objectivo”.

João Dias da Silva, dirigente da Federação Nacional de Professores (FNE), não quis comentar a possibilidade de realização de um boicote. Disse que neste momento a organização está “precisamente a fazer uma consulta interna para estudar as formas como vai tentar impedir que a prova se concretize”.

A primeira parte da prova, comum a todos os professores, está marcada para 18 de Dezembro, e as componentes específicas, relativas aos vários grupos de recrutamento, para o período entre 1 de Março e 9 de Abril, inclusive.

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