Professor e alunos criam associação para combater o bullying
Projecto de docente e jovens de Braga também visa apoiar as vítimas de agressão e intimidação nas escolas.
Sensibilizar os mais novos para a questão do bullying e apoiar aqueles que tenham sido vítimas - e que raramente se queixam - deste tipo de violência física e psicológica é o objectivo da Associação Anti-bullying com Crianças e Jovens, um projecto criado por um professor e um grupo de jovens, em Braga. A associação foi lançada esta segunda-feira, dia em que se assinala o Dia Mundial de Combate ao Bullying.
A vontade de criar um projecto que alertasse a comunidade em geral para a questão da violência nas escolas surgiu quando Paulo Costa, hoje professor e investigador na Universidade do Minho, ainda dava aulas no Agrupamento de Escolas de Real, em Braga, e foi confrontado com um episódio de bullying. Nessa altura, este professor de Educação Física que estava a iniciar o doutoramento na Universidade do Minho decidiu que o bullying seria o tema da sua tese. Este episódio aconteceu em “2008 ou 2009”, mas, conta o professor, é semelhante a muitos outros que acontecem nas escolas portuguesas. Os resultados da investigação de doutoramento de Paulo Costa referem que “37,1% das crianças e jovens auscultados foram vítimas de comportamentos agressivos e intimidatórios na escola”, lê-se no comunicado da Associação Anti-bullying com Crianças e Jovens (AABCJ).
Foi por essa razão que o investigador decidiu criar, em conjunto com alguns dos seus antigos alunos, a AABCJ que esta segunda-feira foi apresentada no Instituto Português do Desporto e da Juventude (IPDJ), em Braga. O projecto visa prevenir situações de violência nas escolas portuguesas e, para tal, procurará sensibilizar alunos, professores, funcionários e pais, promovendo eventos como palestras, peças de teatro ou eventos desportivos nos estabelecimentos de ensino.
“Os jovens são responsáveis [por episódios de bullying] mas eles podem ser a solução”, diz Paulo Costa ao PÚBLICO. A estratégia da AABCJ passa, por isso, pela promoção “nas crianças e jovens de atitudes pró-activas face a situações de violência”, acrescenta o investigador, explicando ainda que a associação vai auxiliar e acompanhar as vítimas de bullying.
O investigador defende que “a temática do bullying deve ser incluída na formação de professores” e sugere ainda realização de um estudo no município de Braga, em parceria com as escolas e a Universidade do Minho, que funcione como “modelo” e possa ser adaptado “a nível nacional”. As redes sociais são também uma ferramenta que a AABCJ quer utilizar para chegar ao maior número de pessoas possível, não se limitando apenas a Portugal. Ao PÚBLICO, o investigador disse ainda que a associação já é seguida por muitas pessoas de vários países onde se fala português e até já aconselhou um jovem angolano que contou ter sido vítima de violência escolar.
Na sua tese de doutoramento, Paulo Costa observou que 75% das vítimas de bullying “referiu não ter dito nada a ninguém”. Em relação ao género, não se detectaram diferenças “significativas” entre as vítimas, porque os alunos do sexo feminino e masculino se “socializam hoje de forma mais próxima e tendem a adoptar os mesmos comportamentos”, explica ao PÚBLICO. Apesar disso, os casos de bullying homofóbico tiveram “maior prevalência" entre rapazes.