Proença de Carvalho deixa por completo defesa de Sócrates
Processos foram assumidos por João Araújo e Pedro Delille, que defendem o ex-primeiro-ministro no processo conhecido como Operação Marquês.
A iniciativa de abandonar estes casos partiu de Proença de Carvalho, que desmente que esse afastamento esteja de alguma forma relacionado com a Operação Marquês, que levou à prisão preventiva do antigo governante em finais de Novembro do ano passado, num processo que investiga suspeitas de branqueamento de capitais, fraude fiscal e corrupção.
Contactado pelo PÚBLICO após ter confirmado a informação junto do advogado João Araújo, Proença de Carvalho admitiu ter subestabelecido os casos de Sócrates que tinham pendentes. “Não fazia sentido estar a representar o engenheiro José Sócrates só nestes processos cíveis”, justificou o reputado advogado, que também ocupa diversos cargos de direcção em grandes empresas, sendo actualmente presidente do conselho de administração da Cimpor e da Global Media Group, que detém os jornais Diário de Notícias e Jornal de Notícias e a rádio TSF. “Além disso estes processos tem alguma relação com a vida que o engenheiro José Sócrates tinha em Paris”, acrescenta Proença de Carvalho.
Sobre as escutas que fazem parte da Operação Marquês, Proença de Carvalho admite que as conversas que teve com Sócrates podem constar do processo, mas insiste que as mesmas são “irrelevantes”. E nega que tenha sido o ex-primeiro-ministro a telefonar-lhe para arranjar um advogado para defender o seu então motorista, João Perna. “As minhas conversas estarão entre milhares de escutas com muitas pessoas. Mas não haverá uma única escuta que tenha a ver com o conteúdo deste processo”, sublinha o famoso advogado.
Contactado pelo PÚBLICO, João Araújo confirma que assumiu, com o colega Pedro Delille, os casos de Sócrates que estavam nas mãos de Proença de Carvalho. “A vontade originária desta alteração foi do Dr. Proença de Carvalho que entendeu que isso seria mais conveniente”, afirma João Araújo. E remata: "Isto está tudo ligado”. Refere-se aos processos intentados, no início de 2013, contra 14 jornalistas do Correio da Manhã. Neste acção, Proença de Carvalho acusava o Correio da Manhã de criar na opinião pública a ideia que Sócrates levava uma vida milionária na capital francesa "sustentada por uma riqueza cuja origem pelo menos suspeita, senão ilícita". E insistia que se estava “perante uma das mais intensas campanhas persecutórias e difamatórias exercidas sobre um político português por parte de um órgão de comunicação social".
A ausência de Proença de Carvalho na defesa de Sócrates foi alvo de muita especulação desde que o ex-primeiro-ministro foi detido e surgiu a defendê-lo um advogado até aí desconhecido do grande público. Proença de Carvalho afirmou então ao PÚBLICO que não tinha sido contactado pelo ex-primeiro-ministro para o representar afirmando, porém, que o ex-primeiro-ministro continua a ser seu cliente em vários outros casos – nos quais era queixoso e não suspeito. “Não vou renunciar à procuração de José Sócrates nesses casos”, disse então o advogado. “Não somos nós que escolhemos os clientes. Os clientes é que nos escolhem a nós”, rematou.
Nessa altura omitiu, contudo, um facto que veio a ser conhecido mais tarde: a sociedade de que é um dos principais sócios estava a representar o então motorista de Sócrates, João Perna, detido no âmbito da mesma operação. A defender o motorista de José Sócrates surgiu um jovem advogado Daniel Bento Alves, que acabou por renunciar a defesa após terminada a fase dos primeiros interrogatórios. O silêncio de João Perna acabaria por custar ao motorista um mês na cadeia, tendo em finais de Dezembro, já com outro advogado, conseguido reverter a prisão preventiva em prisão domiciliária. Em Fevereiro a medida de coacção é novamente aligeirada, ficando Perna apenas sujeito a apresentações periódicas junto das autoridades policiais.