Presidente da RTP diz que Sócrates traz audiências e é “serviço público”
Alberto da Ponte elogia a "contratação" do ex-primeiro-ministro e diz que só o Serviço Nacional de Saúde “gera mais polémica” do que a estação pública.
Numa entrevista à TSF e ao jornal Dinheiro Vivo, Alberto da Ponte responde às críticas feitas em torno da escolha do ex-primeiro-ministro. E garante que a ideia partiu “totalmente da direcção de Informação”. Diz ter sido informado quando “as conversas já iam bastante adiantadas” e porque Paulo Ferreira, director de Informação, entendeu que o devia fazer.
Quando soube, a reacção imediata que teve foi “uma grande surpresa”. “Acho que até perguntei: o José Sócrates?! Ponto de interrogação...” Depois considerou “até uma boa ideia para a estratégia da empresa, que passa por recuperar audiências e também cumprir o serviço público”.
Questionado sobre se o comentário de Sócrates representa serviço público ou traz audiências à RTP, Alberto da Ponte defende: “As duas coisas: é claramente serviço público, porque é necessário que a RTP seja a estação mais isenta; tem de ser diferente, pluralista, independente e, portanto, acho que a entrevista com Sócrates correspondia a isso. Obviamente correspondia também às audiências. A este propósito gostaria de citar algo que a BBC tem como lema, e a BBC é o exemplo do serviço público de audiovisual europeu: o que é popular é bom, e o que é bom é popular.”
E sobre o regresso do ex-primeiro-ministro comenta: “O engenheiro Sócrates decidiu, a convite da RTP, do director de Informação da RTP, que era altura de falar novamente em Portugal."
A entrevista na noite de quarta-feira – que Alberto da Ponte considerou “bem feita” e “dura para o entrevistado” – foi o programa mais visto do dia, com 1,617 milhões de espectadores. Fim do Silêncio, nome dado à entrevista, teve uma audiência média de 16,7% e uma quota de 30,1%, de acordo com os dados da GfK analisados pela Marktest.
Alberto da Ponte diz que a direcção de Informação não tinha “verdadeiramente que informar o presidente da estação da RTP” da intenção de "contratar" José Sócrates – que não irá receber um cêntimo pela colaboração no comentário político na RTP –, porque cumpre os dois parâmetros que “a direcção de Informação tem de cumprir”: obedecer às regras do serviço público e ajustar a programação “à capacidade orçamental da empresa”. “Qualquer dos critérios estava perfeitamente preenchido. Por isso digo que não tinham verdadeiramente necessidade, falo do Paulo Ferreira, de me informar sobre esta matéria”, acrescenta.
Alberto da Ponte é ainda questionado sobre o despedimento de Nuno Santos, ex-director de Informação, rejeitando que o processo tenha corrido em articulação com Miguel Relvas. O presidente da RTP garante que o ministro adjunto e dos Assuntos Parlamentares, que tem a tutela o canal público, “não interfere”. E reforça: “Já tive ocasião de o dizer e quero repeti-lo taxativamente.”
O despedimento de Nuno Santos, reforça, foi “completamente independente, porque, tal como aconteceu com a entrevista ao engenheiro José Sócrates, o ministro foi informado um dia antes, por mera cortesia do presidente da RTP”.
Questionado sobre se as declarações públicas de Miguel Relvas em relação ao grupo de rádio e televisão restringem o campo de acção da administração, Alberto da Ponte responde: “Restringir não restringem. Mas que toda a polémica que se gerou à volta da RTP nos últimos 18 meses prejudicou a RTP prejudicou.” E volta a falar do exemplo do serviço público de rádio e televisão britânico: “Como dizia um dos ex-presidentes da BBC: ‘Em Inglaterra, além da BBC, mais polémico só o serviço nacional de saúde.’ Em Portugal é a mesma coisa: só o serviço nacional de saúde gera mais polémica e paixões que a RTP.”