Portugueses compram 75 mil embalagens de medicamentos psicotrópicos por dia

Nos primeiros oito meses deste ano, as vendas de medicamentos para a depressão e a ansiedade aumentaram cerca de 1,9%.

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Miguel Madeira

Trata-se de um aumento da ordem dos 1,9% face ao mesmo período do ano passado, mas que é mais expressivo no caso dos antidepressivos e estabilizadores de humor. Entre Janeiro e Agosto, venderam-se, em média, 21 mil embalagens deste tipo de medicamentos por dia.

O aumento do consumo de antidepressivos tem sido constante ao longo dos últimos anos (quase um milhão de embalagens entre 2008 e 2012), colocando Portugal no topo da lista dos maiores consumidores. Um fenómeno que não preocupa os psiquiatras, que lembram que cerca de 15% da população portuguesa sofre de patologias psiquiátricas de ansiedade e depressivas graves a moderadas (estudo feito em 2010), percentagem que chega a ser duas vezes superior à de outros países europeus, como a Alemanha, por exemplo.

O que preocupa os especialistas em saúde mental é o aumento das vendas das chamadas benzodiazepinas (tranquilizantes, hinóticos e sedativos), que causam dependência. Após anos de quebra, a sua venda está de novo a aumentar, o que já se tinha verificado no ano passado.

Pode estabelecer-se uma relação de causa-efeito com a crise? A resposta é complexa. Os psiquiatras apenas admitem, para já, um aumento da afluência aos serviços. “É frequente os médicos de família enviarem-nos doentes com episódios de depressão, colocando nas causas o desemprego e dificuldades económicas graves”, declarou à Lusa a presidente da Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental (SPPSM), Luísa Figueira.

“Mas mais do que tratar, também era importante a reintegração destes doentes no trabalho, o que passa por um trabalho junto das pessoas que os empregam”, defendeu.

Depressão causa de incapacidade

Este ano, o tema escolhido para assinalar o Dia Mundial da Depressão (no próximo dia 1 de Outubro) é a “Recessão económica e depressão no trabalho” e vai ser debatido quinta-feira em Lisboa num encontro organizado pela SPPSM. “A depressão no local de trabalho é um assunto que temos falado pouco”, mas é um problema com “um impacto muito grande” nos trabalhadores e empresários, explicou Maria Luísa Figueira.

O problema da depressão é mundial. Citando dados de um inquérito realizado pela Aliança Europeia de Depressão em 2012, que envolveu cerca de sete mil trabalhadores e empresários, a presidente da SPPSM sublinhou que um em cada dez trabalhadores fica de baixa por depressão. Estudos realizados na União Europeia pelas associações de especialistas da área prevêem que em 2030 a depressão seja a maior causa de incapacidade no mundo.