Email anónimo leva PJ a investigar abusos sexuais de menores na Igreja
Diocese de Coimbra recebeu denuncia anónima com as suspeitas relativas a um "membro do clero" e emitiu comunicado. Só depois informou a PJ que abriu a investigação ainda quando não tinha recebido a participação.
A diocese, porém, não informou o Ministério Público e a polícia no mesmo dia em que emitiu o comunicado também divulgado no seu site oficial, apesar de estar em causa a suspeita de crimes. O vigário geral da diocese, padre Pedro Carlos Miranda, explicou ao PÚBLICO que a diocese informou a PJ apenas na tarde desta sexta-feira, um dia depois de ter enviado o comunicado. “Podíamos ter feito o comunicado e a queixa à PJ ao mesmo tempo, mas não fizemos”, disse o responsável.
Certo é que no comunicado, a diocese diz que decidiu divulgar a situação, “antes que seja alguém a oferecer esse tema à divulgação pública, nomeadamente através dos grandes meios de comunicação social”, sublinhou.
A PJ abriu por isso a investigação ao início da tarde desta sexta-feira quanto tinha apenas conhecimento das informações do comunicado e considerando o facto de os crimes serem de natureza pública, não sendo necessário, por isso, uma queixa para que possa agir. A investigação da PJ decorre no âmbito de um inquérito-crime no Departamento de Investigação e Acção Penal de Coimbra, confirmou o PÚBLICO que aguarda ainda mais esclarecimentos da Procuradoria-Geral da República.
De acordo com o vigário geral, a diocese soube de um caso de abusos sexuais de menores cujas suspeitas recaem “sobre um membro do clero” através de uma denúncia anónima que chegou por email. A denúncia conterá a identificação do suspeito, mas o vigário geral recusou adiantar tão pouco o lugar ocupado pelo visado na hierarquia da Igreja.
A diocese garante no comunicado estar a “cumprir todas as normas canónicas estabelecidas pelo Papa Francisco” e diz que, “relativamente às suspeitas que foram divulgadas, irá proceder à sua investigação, tão breve quanto possível”. O padre Pedro Carlos Miranda assegura que a diocese está a colaborar com a PJ e que um “grupo de membros do clero nomeados pelo senhor bispo já está a investigar o caso internamente”.
O padre esclareceu ainda que a diocese, no âmbito do direito canónico e de instruções nesse sentido, quer da Santa Sé quer da Conferência Episcopal Portuguesa, possui “meios próprios” de averiguação interna de denúncias.
“A diocese de Coimbra pede a quem tiver informações sobre situações concretas que se dirija ao padre Pedro Carlos Lopes Miranda, vigário geral. Com estas diligências, a diocese tem como prioridade assegurar o bem dos menores. Se as suspeitas se revelarem fundadas, a diocese estará disponível desde já para oferecer aos menores e às suas famílias toda a proximidade”, refere a diocese no comunicado enviado depois de terem surgido “nalguns meios [não identificados no comunicado] a suspeita da prática de abusos sobre menores por um membro do clero”.