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Os resultados dos alunos portugueses no PISA valem afinal alguma coisa?

No TIMMS os nossos alunos do 4.º ano conseguiram o 15.º lugar num conjunto de 52 países. Num dos itens mais difíceis, envolvendo tanto conhecimentos de geometria como raciocínio lógico, ficaram mesmo em 1.º lugar. No PISA Portugal conseguiu ficar dentro da média dos 34 países da OCDE, e com os valores ajustados tendo em conta o nível socioeconómico, fica mesmo em 6.º lugar. Em nome de uma “exigência” e “rigor” muito próprios, desvaloriza estes resultados, dizendo taxativamente que o TIMMS demonstra que na generalidade dos países ocidentais (onde nos incluímos), “mais de 50% dos alunos, apenas conseguem resolver problemas triviais de resposta imediata”. Os problemas do TIMSS e do PISA serão triviais para o olhar desdenhoso de Filipe Oliveira, mas a verdade é que envolvem diversos níveis de complexidade, e os alunos portugueses conseguiram estar dentro de padrões de desempenho internacionais de que só nos podemos orgulhar.

Numa afirmação bombástica, considera que o nosso sistema de ensino, tal como o de muitos países ocidentais, se encontra na situação de “falência”. Ao querer-nos comparar com sociedades com uma cultura completamente diferente, pretende trazer também para Portugal os sistemas políticos e as condições de vida daqueles países? A Coreia do Sul, Taiwan, Japão e Singapura são sociedades com uma organização e uma cultura que nada têm a ver com a nossa. Pensar que é possível trazer para Portugal os resultados escolares destes países sem fazer ao mesmo tempo uma mudança radical na sociedade revela um rigor de raciocínio que só Filipe Oliveira seria capaz de exibir. E, claro, não lhe ocorre perguntar se é mesmo essa mudança que queremos para o nosso país…

No seu comentário, discorrendo sobre as relações entre documentos curriculares e desempenhos, Filipe Oliveira, mostra não ter a mínima ideia como pode um programa influenciar as aprendizagens dos alunos. Não é de admirar, pois não é um especialista em educação. O programa de matemática de 2007 teve amplos momentos de discussão pública, mesmo antes de ser formalmente homologado (o que não aconteceu com o programa de 2013), teve uma produção abundante de materiais curriculares para a sala de aula, teve muitas iniciativas de formação, teve um amplo movimento de debate entre os professores, que, globalmente, mostraram grande adesão às suas orientações e começaram a aplicar muitas delas ainda no quadro do programa anterior. De resto, isso foi facilitado pelo facto de ter sido deixada às escolas a opção entre seguir o programa de 2007 ou o programa anterior de 1990-91, verificando-se uma grande adesão à introdução imediata do novo programa. Nada disso acontece agora e não podia ser maior o divórcio entre os professores e orientações curriculares agora propostas para o ensino desta disciplina. Muitos professores dizem que não conseguem cumprir os novos programas com os seus alunos e mostram-se perplexos com o que irá acontecer. De uma coisa podemos estar certos – não será com ameaças de avaliações cada vez mais exigentes e outras retaliações sobre professores e alunos que os conseguiremos mobilizar para a causa de um ensino de Matemática de maior qualidade…

Aquilo que chama “fantasias pedagógicas” deram resultados que estão à vista. Em relação à política do back to basics, estaremos cá para ver. Pelo que aconteceu no passado, nos países onde estas políticas foram implementadas no ensino da Matemática (nos anos de 1970 e 1980 do século passado), os resultados não foram brilhantes. E pelo que se sabe sobre a confusão que as novas medidas curriculares têm provocado entre professores, alunos e encarregados de educação, as perspetivas não são animadoras, o que de resto já levou responsáveis da Sociedade Portuguesa de Matemática, a reconhecerem publicamente que o processo de introdução do atual programa não está a correr bem.

Ao discorrer sobre as questões de educação, Filipe Oliveira não consegue ir além da suposta oposição entre “escola facilitista” e o “ensino estruturado e exigente”. Esta oposição, na verdade, constitui uma falsa questão. O que temos de construir é uma escola que proporcione um caminho natural e gratificante para as aprendizagens, ao mesmo tempo que desafia e encoraja os alunos a desenvolverem cada vez mais as suas capacidades e conhecimentos. Era esse o caminho que vínhamos trilhando na última década e ao qual teremos de regressar se quisermos ver os resultados dos alunos portugueses voltarem a melhorar.

O autor é Coordenador dos Mestrados em Ensino da Universidade de Lisboa e Director do Instituto de Educação.

 
 

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