O doutoramento como porta de entrada na docência
Ainda não tem 30 anos e é o mais jovem professor da Universidade do Porto, mas Pedro Amorim não o sente no dia-a-dia.
O seu percurso parece confirmar que é mais um entre os pares: desde que ali trabalha criou uma start-up e participou na reformulação do plano curricular da licenciatura de Engenharia Industrial. Também coordena o programa Erasmus do curso e orienta mestrados e doutoramentos.
Foi num momento fora do país que Pedro Amorim melhor se apercebeu do envelhecimento que atinge o corpo docente no ensino superior em Portugal. No ano passado, passou uma temporada a trabalhar na Carnegie Mellon, nos EUA. “Lá encontrei pessoas muito mais novas, com mais dinamismo e voltadas para a investigação”, diz. “No regresso ao Porto, comecei a perceber as diferenças”. Na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), onde dá aulas desde 2013, tem apenas uma colega professora que é um ano mais velha do que ele. Os restantes são todos gerações mais velhas.
Geração Erasmus
Pedro Amorim tem dado aulas de Investigação Operacional, Matemática Aplicada, Logística e Estatística e desempenha cargos de gestão dentro da faculdade. Foi também na FEUP que fez a licenciatura e o mestrado, antes de começar o doutoramento — a sua porta de entrada na carreira académica.
Doutorou-se no final de 2012, com uma tese sobre planeamento da produção e da distribuição de produtos alimentares. “Uma coisa muito aplicada”, explica.
O seu trabalho tinha possibilidades de aplicação de tal modo práticas que, juntamente com o orientador do doutoramento e um outro colega investigador, abriu uma start-up, a LTP Labs. A nova empresa aplica a metodologia desenvolvida na sua tese a outros produtos além dos do sector alimentar, oferecendo soluções de consultoria de gestão.
Amorim faz parte de uma das gerações que mais têm sofrido com as consequências da crise dos últimos anos — e que tem estado para já praticamente arredada da carreira docente, por via dos constrangimentos às contratações e da desaceleração da procura do ensino superior.
Conhece de perto a realidade da emigração jovem, já que grande parte dos seus colegas de licenciatura estão a trabalhar fora do país, em empresas espanholas, suíças ou norte-americanas, alguns deles a fazer doutoramentos. Ter entre os amigos tanta gente que não vive em Portugal coloca desafios à organização da vida do grupo: “Quando há uma festa de anos é preciso convidar com três meses de antecedência para permitir que todo o pessoal consiga vir”.
O mais jovem professor da Universidade do Porto é, simultaneamente, um produto da geração Erasmus. Ao abrigo deste programa de intercâmbio europeu, Amorim passou um ano na Holanda e habituou-se a viajar. Fez o estágio curricular em França, passou uma temporada na Alemanha durante o doutoramento e, mais recentemente, esteve a fazer investigação nos Estados Unidos. “Nós temos outras referências que os nossos professores não tinham. E isso pode perder-se, se não se fizer nada.”
É essa uma das suas principais preocupações. “É urgente renovar”, diz o jovem professor. “Há gente com 50 e muitos anos. Não vai demorar muito a que comecem a sair”, defende. “E se não se começar já a alimentar a base, vai haver problemas, com certeza.”