O desafio agora é móvel
Resultados de um projecto sobre a utilização da Internet pelos mais jovens vão ser discutidos numa conferência em Lisboa no fim de Novembro.
Estas conclusões resultam do projecto Net Children Go Mobile, que em Portugal é coordenado pela Faculdade de Ciências Socias da Universidade Nova de Lisboa e que também aponta para uso excessivo das tecnologias por partes dos mais jovens.
O uso intensivo apresenta-se “mais intenso” entre os 13 e os 14 anos, mostra Cristina Ponte, que coordena este projecto. Entre estes, 31% demonstram uma ou outra forma de utilização excessiva do telemóvel ou smartphone. Este valor é inferior entre os colegas entre os 15 e 16 anos: 19%.
O Net Children Go Mobile é uma continuação do projecto EU Kids Online, que tinha traçado um retrato da utilização da Internet pelos mais jovens na Europa. Desta feita, o foco é feito na forma como os adolescentes utilizam os telemóveis, tablets e outros dispositivos móveis. Os resultados nacionais serão discutidos na conferência Crianças e meios digitais móveis em Portugal, que se realiza a 28 e 29 de Novembro, em Lisboa.
A investigação aponta no mesmo sentido dos trabalhos do ISPA: existe uma geração que usa continuamente a Internet e isso começa a causar problemas. O trabalho da Universidade Nova de Lisboa mostra que 6% dos inquiridos já ficaram sem comer ou dormir por causa da Internet, enquanto 15% revelam ter passado menos tempo com amigos, família ou a realizar trabalhos escolares pelo mesmo motivo.
“Há uma tendência para estar ligado o tempo todo, uma tendência que os meios móveis vieram intensificar”, frisa Cristina Ponte. A tecnologia é cada vez mais individual e hoje 80% das crianças e jovens têm telemóvel ou smartphone. Estes dispositivos ocupam um lugar cada vez mais central nas suas vidas. O Net Children Go Mobile dá a esta realidade uma expressão numérica: 59% dos adolescentes sentiram uma grande necessidade de verificar o telemóvel, enquanto 54% destes jovens sentiram-se aborrecidos por não poderem usar o telemóvel por não ter bateria ou rede.
Em matéria de uso excessivo da Internet, os portugueses estão acima da média dos países avaliados neste estudo, contrariamente ao seu comportamento quando a análise se centra nos riscos associados à navegação online: contrariamente aos nórdicos ou aos europeus de Leste, os jovens nacionais têm valores bastante baixos nos chamados comportamentos de risco (sexting, consumo de conteúdos sexuais ou cyberbulling).
Cristina Ponte atribui este facto às campanhas que têm sido feitas para alertar para os riscos do mundo virtual. E defende que se faça algo do género no que toca à utilização excessiva e aos perigos de dependência: “Este tem que ser tema de conversa na escola, em família. É preciso chamar a atenção para o lugar que a tecnologia tem do ponto de vista social e da relação com os outros.”