Nova associação de professores rejeita acordo ortográfico nos exames nacionais

A defesa da possibilidade de os estudantes utilizarem, este ano, ambas as grafias, nas provas nacionais, é a primeira iniciativa da nova associação, a Anproport.

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Fernando Nabais, presidente de nova associação de professores de Português Paulo Pimenta

“A Anproport não foi criada contra o AO90 nem se afirma contra ele. Mas defende que o acordo deve ser debatido e avaliado e que, se se concluir que é prejudicial, deverá revogado”, disse Fernando Nabais, em declarações ao PÚBLICO. Sublinhava, assim, um dos pontos em que a Anproport se distingue da Associação de Professores de Português (APP), criada em 1977, cuja actual presidente, Edviges Ferreira, afirmou, recentemente, que “se o MEC determina que o AO90 é para cumprir, [os professores] só têm de obedecer”.

Segundo Fernando Nabais, a perspectiva da nova associação é que “nada passa a ser positivo pelo único facto de estar legislado. No que respeita à ortografia, em particular, diz, “o que actualmente se verifica é o caos, que resulta da utilização simultânea de ambas as grafias e do que não é uma coisa nem outra”. “Não é invulgar depararmos com palavras que não existem na publicidade, nas legendas da televisão e até em documentos oficiais”, repara. Considera que a situação é especialmente grave em relação aos alunos do 12.º ano, para os quais uma centésima a menos ou a mais pode determinar a entrada ou não num curso do ensino superior. Isto porque, no limite, os estudantes podem perder até quatro valores (em 20) devido a erros ortográficos, sublinha.

Outro dos motivos que Fernando Nabais aponta para que parte dos docentes da disciplina não se reveja na mais antiga associação profissional, é a postura daquela face “ao regresso dos clássicos e à revalorização da história da literatura e da própria literatura” no novo programa do ensino secundário, que será aplicado pela primeira vez no próximo ano lectivo.

“Ouvimos a presidente da APP defender que do programa deviam constar autores mais recentes e mais próximos da realidade dos alunos, que de contrário passarão a detestar a disciplina. Já nós consideramos inaceitável que um aluno possa fazer 12 anos de escolaridade sem saber que D. Dinis ou Fernão Lopes escreveram uma linha. Quando se toma este tipo de decisões, o critério não pode ser se os alunos se identificam ou não imediatamente com as obras”, disse, defendendo “o rigor e a exigência”.

Contactada pelo PÚBLICO, a presidente da APP, Edviges Ferreira, assegurou que a direcção da associação se fará representar na apresentação pública da Anproport, marcada para as 11h deste sábado na Biblioteca da Escola Secundária Pedro Nunes, em Lisboa. “Na medida em que tem nos seus órgãos sociais os autores das metas e dos novos programas de Português, é muito natural que as pessoas que integram a nova associação não se revejam nas posições da APP, que os tem contestado publicamente. Mas isso não tem mal nenhum, tornará o debate mais interessante, pelo que fazemos questão de estar presentes e de desejar as maiores felicidades aos nossos colegas”, afirmou.

Quanto ao AO90, Edviges Ferreira esclareceu que “a APP nunca tomou uma posição favorável ou desfavorável” por entre os seus associados “não existir unanimidade em relação ao assunto”. Segundo diz, “existindo professores de Português que concordam com a aplicação do AO90 e outros que discordam”, “a única posição possível da associação é colocar isso em segundo plano e proteger alunos, cumprindo a lei e os despachos que determinam que este ano o AO90 é aplicado na avaliação externa”.

Em relação ao programa do secundário, Edviges Ferreira recordou o parecer da APP feito na altura da sua apresentação. Nessa ocasião,  a presidente da APP criticou o elevado número de obras literárias incluído no programa, o facto de aquele ser excessivamente extenso e prescritivo (com a indicação de capítulos específicos de cada obra e até de excertos e de poemas) e a sua alegada desadequação, por exemplo, a alunos do 10.º de escolaridade, “um ano crítico, marcado por altos níveis de insucesso, por corresponder a uma fase de transição e por as turmas serem muito heterogéneas”.

A APP já se manifestou também contra o novo programa de Português e Metas Curriculares para o Ensino Básico, cuja consulta pública terminou esta sexta-feira. Defendeu, em concreto, a sua não homologação, por considerar que o documento "tem erros educativos e científicos". A Anproport não emitiu qualquer parecer sobre esse ou outros assuntos, disse Fernando Nabais, que adiantou que essas serão tarefas para desenvolver nos próximos meses.

O presidente da nova associação confirmou que Helena Buescu, presidente da comissão científica responsável pelas metas curriculares e pelo programa de Português do Ensino secundário, é presidente da mesa da assembleia geral da nova Anproport, mas desvalorizou o facto. “Não excluímos pessoas por serem autoras de programas ou de manuais ou por serem de esquerda ou de direita. As pessoas juntam-se por terem visões comuns”, afirmou.

Durante a próxima semana a Anproport divulgará as páginas na internet da associação e a forma como os professores se podem tornar associados. O objectivo, de acordo com Fernando Nabais, é reunir docentes de todos os níveis de ensino, do pré-escolar ao Superior.

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