Nem todos os adultos aprendem a ler e escrever quando voltam à escola
Cursos duram menos de um ano, o que é insuficiente. Associação vai ser recebida no Ministério da Educação para expor problema e propor soluções
Muitos adultos regressam à escola para obter o certificado do 4.º ano, mas as ofertas formativas existentes fazem com que muitos terminem os cursos sem saber ler nem escrever, alertaram responsáveis do sector.
Em Portugal existem cerca de 550 mil pessoas analfabetas. As antigas acções de alfabetização foram substituídas por "novas ofertas formativas que não permitem a essas pessoas aprender a ler e a escrever", avisa Armando Loureiro, da Associação Portuguesa de Educação e Formação de Adultos.
A opinião é partilhada por Vitor Moreira, o coordenador do Centro para a Qualificação e o Centro Profissional de Santo Tirso, que sucederam aos antigos Centros de Novas Oportunidades, onde dezenas de adultos estão actualmente a estudar para obter o diploma do 4.º ano. Mas Vitor Moreira diz que "a maioria vai chegar ao fim sem saber ler nem escrever", uma vez que o curso de Educação e Formação de Adultos que frequentam dura menos de um ano, tempo insuficiente para aprender.
"Um adulto tem muito mais dificuldades em aprender do que uma criança, segundo nos dizem as professoras que também dão aulas no 1.º ciclo aos mais novos", sublinha. Os adultos analfabetos podem frequentar as Ações de Formação de Competências Básicas, "que têm uma duração de 200 horas, mas a verdade é que ninguém consegue aprender em tão curto espaço de tempo". Terminada esta formação, podem inscrever-se nos cursos de Educação e Formação de Adultos B1, para obter o diploma do 1.º ciclo.
Na Escola Tomás Pelayo, em Santo Tirso, estes cursos começaram em meados de Fevereiro e vão terminar em meados de Junho. Apesar de haver aulas todos os dias, os professores sabem que serão poucos os que vão chegar ao fim com competências para merecer o diploma do 4.º ano. Ali, as turmas são compostas por alunos que deveriam estar no 1.º ano e outros com conhecimentos que lhes permitiria estar mais à frente. Resultado: "As pessoas que têm mais dificuldades dificilmente vão conseguir terminar com êxito", lamenta Vitor Moreira.
Segundo Armando Loureiro, a história do Centro para a Qualificação e o Ensino Profissional do Agrupamento de Escolas Tomaz Pelayo, que começou a funcionar em Fevereiro de 2014, repete-se um pouco por todo o país.
Para combater este problema, a Associação Portuguesa de Educação e Formação de Adultos deverá ser recebida, na terça-feira, pelo secretário de Estado da Educação, a quem pretende apresentar um projecto "sem custos financeiros muito acrescidos", que consiste em oferecer formação convidando quem já está no terreno. "Era preciso formalizar um processo de certificação e ter um júri composto por professores. Mas ao aproveitarmos o trabalho que já existe os custos seriam praticamente inexistentes", explica.
Esta é apenas uma das ideias da associação para acabar com os "percursos incertos e intermitentes" que têm marcado a educação de adultos, "ora com apostas fortes ora com o completo esvaziamento da sua actividade junto das pessoas".
"Queremos que a educação para adultos se transforme num subsistema da educação", com programas vocacionados para a empregabilidade mas também com ofertas para quem simplesmente quer aprender, diz Armando Loureiro.