Maria do Mar teve pressa e nasceu num pouf na Praia da Mata
Mãe entrou em trabalho de parto na Caparica e não houve tempo para ir para o hospital. Técnico de cardiopneumologia estava na esplanada ao lado e decidiu ajudar.
A mãe, de 37 anos, estava na recta final da gravidez de Maria. Às 40 semanas de gestação, Catarina esperava os primeiros sinais de que tinha chegado a altura. Só que entre os sintomas e o desfecho praticamente não houve um intervalo. Estava acompanhada por uma amiga, também grávida, que chamou os nadadores-salvadores, conta Luís Mendes. Uma nadadora-salvadora começou por tentar tranquilizar a mãe, mas Catarina alertou-a de que o parto do primeiro filho também já tinha sido rápido. As águas rebentaram em plena praia e quem tentou ajudar nem sequer conseguiu que a mãe chegasse ao café. Luís, tal como outros dos presentes, foram tentando perceber se entre o bar e a praia existiria algum médico ou enfermeiro.
Gil Nunes, ainda sem saber de que urgência se tratava, não hesitou e avançou. Foi quando viu Catarina no pouf arrastado à pressa da esplanada para o areal que percebeu que esperava encontrar tudo menos um parto. “Sou técnico de cardiopneumologia numa unidade de AVC no Hospital de S. José, em Lisboa”, explica. Valeu-se na experiência de dez anos nos bombeiros de Mafra, onde também já tinha ajudado a conduzir um parto. O que se usa numa situação destas? Luís Mendes e os empregados do bar arranjaram mantas lavadas, água e chapéus de sol. Ajudaram também a criar um perímetro de segurança para afastar os curiosos. “Usei as minhas mãos e pouco mais. Foi um dia de felicidade, muito diferente do que se vê numa unidade de AVC”, resume Gil Nunes.
Quanto ao nome da criança, o parteiro improvisado diz que a mãe da recém-nascida tencionava chamar-lhe apenas Maria. Mas perante o cenário do parto houve um acrescento e a pequena ficará Maria do Mar. O corte do cordão umbilical foi feito depois de chegados os reforços, já por um enfermeiro da Maternidade Alfredo da Costa que também estava na praia. Mãe e filha rumaram depois ao hospital. O ISN fez um comunicado sobre esta estreia insólita do mês de Agosto com o título “missão inédita” e em que confirma que “os nadadores-salvadores presentes na praia da Mata, na Costa da Caparica, tiveram um dia diferente, prestando auxílio e acompanhamento a uma veraneante que deu à luz na praia”.
Tanto a mãe como o recém-nascido estão de “boa saúde, tendo sido transportados em segurança pelo areal, por uma carrinha, até uma zona de acesso à ambulância do Instituto Nacional de Emergência Médica, que os levou para o Hospital Garcia de Orta, em Almada”, diz a mesma nota. Gil Nunes e Luís Mendes ficaram satisfeitos com o desfecho, embora temam que nem todas as emergências tenham um final feliz, com o proprietário do bar a explicar que o estacionamento caótico na Praia da Mata impede, por vezes, a aproximação dos meios de socorro.
Os dados do Instituto Nacional de Estatística relativos a 2013 (último ano com dados totais fechados) indicam que nasceram no país um total de 82.064 crianças. A esmagadora maioria (81.559) viram o parto aconteceu em estabelecimentos de saúde, tanto públicos como privados. No entanto, ainda existiram 505 casos de bebés que nasceram noutros locais, tal como Maria do Mar. Os sítios não estão especificados, mas os nascimentos podem acontecer em casa, em ambulâncias, ou em locais públicos, como um areal da Costa de Caparica.