Manuel “Palito” levantava-se de madrugada para perseguir a ex-mulher

O homem que esteve fugido 34 dias ficou em prisão preventiva e não falou ao juiz. À chegada foi recebido por uma multidão que o aplaudiu. A GNR fechou ruas com um forte dispositivo onde nem faltaram homens a cavalo.

Fotogaleria
Público/ Arquivo
Fotogaleria
Miguel Nogueira
Fotogaleria
Miguel Nogueira
Fotogaleria
Miguel Nogueira

Apesar de ser considerado perigoso pelas autoridades e estar fortemente indiciado pelos crimes, o homem também conhecido como Manuel “Palito”, que esteve fugido 34 dias foi recebido como uma espécie de herói popular. À sua chegada, foi aclamado por mais de 200 habitantes locais, que o esperavam. Tiraram fotos com os telemóveis, bateram palmas e também assobiaram, mas numa manifestação de apoio. Ninguém o criticava e alguns até o elogiavam.

A GNR mobilizou dezenas de elementos para o local, para fazer segurança e a delimitar a entrada do tribunal. Enviou para ali alguns dos mesmos militares a cavalo que, durante mais de um mês, não encontraram o suspeito. As ruas foram fechadas e quase ninguém conseguiu entrar no tribunal onde vários julgamentos foram adiados. Tudo por Manuel Baltazar.

O homem, agricultor e com 61 anos, chegou pelas 15h20 ao Tribunal de São João da Pesqueira, mas só começou a ser inquirido pelas 18h. Até lá, o tribunal teve de arranjar-lhe um advogado oficioso, já que não tinha um nomeado. A medida de coacção, a mais gravosa (prisão preventiva), só foi conhecida à saída do tribunal, pelas 20h. Minutos depois a Polícia Judiciaria arrancou de imediato com Manuel Baltazar, cabisbaixo, em direcção à cadeia de Vila Real.

A partir de Fevereiro de 2009, altura em que o casal se separou, o alegado homicida passou a levantar-se de madrugada para ver por onde a ex-mulher andava e para exercer coacção sobre ela, de acordo com o processo relativo aos episódios de violência doméstica ao qual o PÚBLICO teve acesso. Neste processo fica ainda claro que a pulseira electrónica, através da qual Manuel Baltazar era vigiado pelos serviços prisionais, visava impedi-lo de se aproximar da ex-mulher. Sem êxito, como se viu.

A ministra da Justiça, Paula Teixeira da Cruz, porém, afirmou nesta quinta-feira que o facto Manuel Baltazar ter cortado a pulseira electrónica, antes de praticar os crimes, não coloca em causa a utilização deste mecanismo de vigilância.

Ainda de acordo com o processo, muitas vezes o arguido começava a perseguir a mulher logo pelas 6h de quase todos os dias. Depois de o divórcio ter sido decretado, passou a persegui-la “na rua e nos locais” onde a ex-mulher trabalhava, para a “ameaçar e amedrontar”. Chegava mesmo a ameaçar quem dava trabalho à ex-mulher, para a privar de meios de subsistência e a controlar.

Por essa altura, Fevereiro de 2009, a ex-mulher estava numa casa abrigo da APAV, em Vila Real. Porém, teve de fugir dessa casa, onde esteve oito meses, até Agosto, quando Manuel Baltazar descobriu a sua localização. Foi, então, morar para uma casa de Peso da Régua, onde se achava mais segura. Certo é que, por esses dias, foi também localizada junto de uma paragem de autocarro onde aguardava transporte para o trabalho. Voltou a ser agredida e ameaçada de morte, o que não lhe era de todo novidade. Ainda quando morava com o ex-companheiro foi ameaçada com uma arma para voltar a dormir no quarto do casal.

Antes disso, a 5 de Dezembro de 2011, foi o filho de ambos, de 30 anos, quem Manuel Baltazar ameaçou com uma arma, apontada ao peito, durante uma apanha de azeitona em Valongo dos Azeites. “Se queres matar, mata-me a mim”, disse a ex-mulher que intercedeu pelo filho. Esta actuação do arguido poderá explicar a circunstância de vários advogados terem sucessivamente recusado defender Manuel Baltazar em tribunal, como consta no processo.

De acordo com a mesma fonte documental, Manuel Baltazar, que chegou a ter quatro espingardas e inúmeras munições em casa, ameaçava todos os familiares da ex-mulher e amigos que a defendessem. Não abria qualquer excepção, nem para os próprios filhos e incompatibilizou-se com dois dos quatro irmãos com quem deixou de falar.

O relatório social apenso ao processo descreve-o como pouco sociável e aponta-lhe uma obsessão em relação à ex-mulher com quem esteve casado 25 anos. “Um e outro jurámos ser fiéis até que a morte nos separasse. Não sei por que ela quis o divórcio. Está deprimida e inventa coisas”, referiu o arguido durante uma das inquirições em tribunal relacionadas com os crimes de violência doméstica.

“Tinha acessos de raiva e recusava aceitar o fim da relação e a emancipação mulher”, apontava ainda o relatório no qual se lê ainda que, certa vez, Manuel Baltazar avisou a ex-mulher de que tinha uma pistola com três balas: uma para ela; outra para a ex-sogra; e outra para ele. De outra vez, ameaçou-a no cemitério e levou-lhe o telemóvel, para que ela não avisasse a GNR.

Sugerir correcção
Comentar