"Magoa o nosso trabalho não ser conhecido"
Escola Superior de Educação de Santarém parou 12 minutos, como outras no resto do país, ainda em reacção às declarações do ministro da Educação.
Às 16h, todas as escolas superiores de educação do país pararam durante 12 minutos — foi esta a duração da entrevista do ministro da Educação e Ciência, Nuno Crato, à RTP, a 18 de Dezembro. Nessa entrevista, Crato disse que “há professores licenciados por universidades e há professores licenciados por escolas superiores de educação que têm características diferentes e critérios de exigência muito diferentes”, o que deu origem a várias tomadas de posição contra o governante, por parte das escolas superiores e dos politécnicos.
“Magoa o nosso trabalho não ser conhecido e ser tratado com tanta leviandade por quem nos tutela”, afirmou nesta quinta-feira Maria João Cardona, ex-directora da Escola Superior de Educação de Santarém (ESES), quando os membros dos órgãos directivos da escola se juntaram no auditório com a comunidade académica, para mostrar a sua "manifestação de desagrado" perante a comunicação social.
Aos números apontados pelo actual director, Jean Campiche, para dar a dimensão do trabalho desenvolvido na ESES, Maria João Cardona acrescentou “a grande tradição” desta escola no trabalho com África (nomeadamente na elaboração dos manuais escolares de São Tomé e Príncipe) e mais recentemente com o Brasil.
As Escolas Superiores de Educação "não estão na infância, já deram muitas provas de muito e bom trabalho", frisou, realçando o desconhecimento por parte de Nuno Crato da realidade de uma formação muito próxima da das universidades.Outra das professoras, e subdirectora, Helena Luís, lembrou que a estrutura curricular “é exactamente a mesma, tal como é a mesma agência que avalia os cursos”.
“Estamos aqui para mostrarmos quem somos, já que o ministro não sabe”, afirmou Jean Campiche. Actualmente com 723 alunos e 62 professores (48% dos quais doutorados ou com o título de especialistas e 31 em doutoramento), a ESES lecciona cinco licenciaturas, oito mestrados, dois cursos de especialização tecnológica e duas pós-graduações, frisando o director que são precisos cinco anos (licenciatura mais mestrado) para formar um professor.
A acção de reflexão realizada hoje em todas as ESE do país insere-se no conjunto de iniciativas que a Associação de Reflexão e Intervenção na Política Educativa das Escolas Superiores de Educação (Aripese) decidiu realizar em reacção à entrevista do ministro.
A Aripese representa 12 das 13 ESE públicas do país. A única escola que não integra a associação é a da Guarda, mas também esta instituição decidiu participar na Jornada de Reflexão.
A jornada é a primeira de outras acções “de reflexão, discussão e clarificação” que as ESE vão realizar ao longo do ano lectivo.