Homossexuais católicos portugueses aplaudem inquérito do Vaticano
Papa quer saber qual a opinião dos católicos sobre temas como o divórcio e casamento gay, numa atitude sem precedentes na Igreja.
O Vaticano enviou às conferências episcopais um inquérito, que deverá ser distribuído pela comunidade católica, com perguntas sobre temas pouco consensuais no seio da Igreja, como a contracepção, o casamento entre homossexuais e o divórcio. Os resultados desta consulta servirão de base para preparar o sínodo sobre a família, marcado para Outubro de 2014, sob o tema “Desafios pastorais da família no contexto da evangelização".
“Numa atitude sem precedentes, o Vaticano acaba de pedir aos bispos de todo o mundo que perguntem aos fiéis qual a sua opinião sobre os ensinamentos da Igreja no que concerne à contracepção, ao casamento entre pessoas do mesmo sexo e ao divórcio”, afirma a Rumos Novos, num comunicado enviado à Lusa. A associação refere que “é com o coração cheio de júbilo” que os homossexuais católicos portugueses recebem esta notícia.
“Como católicos, não podemos deixar de reconhecer a actuação do Espírito Santo no seio da sua Igreja, pois é a primeira vez que o Vaticano pediu tal tipo de opiniões aos católicos de base, pelo menos desde o pós-Vaticano II”, observa.
A Rumos Novos sublinha que esta notícia é ainda mais importante tendo em conta algumas posições críticas tomadas pelo actual Papa, quando ainda era arcebispo da Argentina, sobre os homossexuais e o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Para a associação, este inquérito representa também “um forte compromisso com o Vaticano II, que desafiou a Igreja a escutar os sinais dos tempos, para poder evangelizar de forma capaz, como Cristo ensinou”.
Os homossexuais católicos realçam ainda a “abordagem franca, aberta e com espírito de partilha” do Vaticano. “Finalmente, a hierarquia católica não se inibe de falar de união civil, casamento entre pessoas do mesmo sexo e adopção por casais de pessoas do mesmo sexo, sem ser para os condenar”.
A Rumos Novos, que trabalha diariamente no acompanhamento, oração e partilha com homossexuais católicos portugueses, deseja que a Conferência Episcopal Portuguesa “saiba encontrar a melhor forma de levar este importante documento a toda a igreja nacional para que possa ser um verdadeiro documento de partilha”.
“Fraternalmente desejamos que os bispos portugueses sejam autenticamente encorajados pela Conferência Episcopal a realizarem esta ampla consulta dos leigos e sacerdotes”, afirmam, acrescentando: “Se assim não for, teremos todos perdido uma grande oportunidade de ouvir a voz do Espírito Santo a trabalhar na Igreja”.
A Rumos Novos encoraja “todos os fiéis, particularmente os fiéis homossexuais católicos, a fazerem ouvir as suas opiniões”. Para a associação, é chegado o momento de os homossexuais católicos agarrarem esta oportunidade e “fazer, mais uma vez, sentir à hierarquia católica a necessidade” de trabalhar pela inclusão dos homossexuais.