Há quem pague do seu bolso colonoscopias prescritas pelo centro de saúde

Associação de Luta contra o Cancro do Intestino diz que tem recebido muitas queixas de pessoas na Grande Lisboa que enfrentam grandes dificuldades para marcar o exame.

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Fizeram-se menos 600 cirurgias oncológicas Gonçalo Português/arquivo

Os preços variavam entre os 140 euros (sem anestesia) numa clínica e os 400 euros noutra, valores que, mesmo na modalidade mais reduzida, são absolutamente incomportáveis para ele. “A credencial [passada pelo médico] já não deve servir para nada. Eles dizem que fazem desde que eu pague, mas eu não tenho esse dinheiro para pagar”, indigna-se António, que há seis anos acompanhou o sofrimento da mulher, que morreu com um cancro do intestino. "Tenho aqui outros exames para fazer, esse vai ficar para mais tarde", lamenta.

O caso de António é um dos vários que chegaram à Associação de Luta Contra o Cancro do Intestino (Europacolon), que tem alertado os responsáveis para as grandes dificuldades que muitas pessoas enfrentam para marcarem colonoscopias na zona da Grande Lisboa. O presidente da associação, Vítor Neves, garante que o Ministério da Saúde e a Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo (ARSLVT) têm conhecimento deste problema “há muitos meses”. As queixas chegam através da linha de apoio 808 200 199 e são normalmente de pessoas da Grande Lisboa que, apesar de possuirem credenciais destes exames passadas pelos centros de saúde, têm dificuldades para os conseguirem marcar ou não conseguem, sequer, realizá-los.

“O problema nota-se mais na região da Grande Lisboa, mas acontece em todo o país”, sustenta Armando Santos, vice-presidente da Federação Nacional dos Prestadores de  Cuidados de Saúde. “A degradação do preço [que o SNS paga às clínicas convencionadas] tem sido tal que os médicos deixaram de fazer esse exame para o SNS”, afirma, acrescentando que há outros tipos de exames onde começa também a haver dificuldades de resposta.  "Por uma colonoscopia esquerda pagam-nos 39,13 euros e o utentes pagam 13 euros de taxa moderadora, e por uma endoscopia pagam 34,31 euros [12 euros de taxa moderadora]", exemplifica.  Com este tipo de remuneração, quando os equipamentos avariam, [os convencionados] deixam de fazer exames para o SNS e as pessoas é que sofrem”, justifica, notando que não será por acaso que no ano passado "se fizeram menos 600 cirurgias oncológicas". “Os diagnósticos estão a ser protelados”, diz.

Interpelado pelos jornalistas esta quarta-feira, o ministro da Saúde admitiu que a dificuldade na realização de colonoscopias na Grande Lisboa é “uma situação preocupante” e prometeu resolver a situação até ao final do ano. “A colonoscopia é uma situação preocupante, uma vez que há uma escassez anormal na oferta desse tipo de serviços. Vamos estar muito atentos para corrigir essa situação até ao final do ano e será a Administração Regional de Saúde de Lisboa a corrigir”, afirmou Paulo Macedo, citado pela agência Lusa.

O gabinete de imprensa da ARS de Lisboa e Vale do Tejo garante, porém, há uma “rede de clínicas convencionadas” a que os interessados podem recorrer e que devem avisar quando não conseguem fazer os exames.  Não é fácil encontrar a lista de clínicas com acordos com o SNS no site da ARS, é preciso seguir uma série de instruções até chegar lá. São 15 unidades privadas e cinco centros hospitalares públicos (onde se inclui o IPO de Lisboa).

Em Portugal há cerca de sete mil casos de cancro de intestino por ano e, em média, morrem 11 pessoas por dia com a doença. Vítor Neves acredita que com um rastreio de base populacional com um exame que é muito mais acessível do que a colonoscopia  –  a pesquisa de sangue oculto nas fezes – seria possível evitar muitas destas mortes.
 

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