Há 400 mil portugueses que têm diabetes e não sabem

No total, 13% dos portugueses entre os 20 e os 79 anos têm esta doença, associada ao sedentarismo e aos maus hábitos alimentares, avança o Relatório Anual do Observatório Nacional da Diabetes. Número de amputações voltou a crescer, mas ao mesmo tempo conseguiu-se que mais pessoas fossem seguidas em 2013 pelo médico de família.

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Em Portugal mais de um milhão de pessoas entre os 20 e 79 anos têm diabetes e há dois milhões em risco de desenvolver esta doença Manuel Roberto

Os dados referidos por José Manuel Boavida fazem parte do Relatório Anual do Observatório Nacional da Diabetes, apresentado nesta terça-feira em Lisboa, e que aponta para que mais de um milhão de portugueses tenha diabetes. Em 2009 correspondiam a 11,7% da população e agora a 13%. Os dados indicam que 40% da população já tem a doença ou esteja em risco de a desenvolver, situação a que se chama pré-diabetes. Os mais afectados são os homens e é nesta camada da população que o subdiagnóstico é mais frequente. “Falar-se que quase metade da população tem diabetes ou está em risco não é um problema que possa ser negligenciado. É claramente um grande desafio para as estruturas de saúde e as autoridades de saúde, até porque a diabetes não é um mal por si mas pelo impacto que tem na vida das pessoas”, afirma o coordenador do programa nacional.

José Manuel Boavida reforça que “ter ou não ter diabetes corresponde a uma diferença de risco que corresponde ao dobro” em termos de mortalidade de doenças como as cardiovasculares e cerebrovasculares, sendo também das principais causas de cegueira e insuficiência renal. Por isso, apesar de o número de óbitos nos hospitais directamente atribuíveis à diabetes estar a cair, registando-se uma quebra de 36% em dez anos, pelo contrário os casos em que o óbito por outra doença aconteceu em alguém com diabetes cresceu 46% no mesmo período.

Um dos dados que mais preocupa o presidente da Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal e coordenador do Observatório Nacional da Diabetes, Luís Gardete Correia, diz precisamente respeito às complicações provocadas por esta doença. Em 2013 o número de utentes internados nos hospitais pelo chamado “pé diabético” voltou a subir, de 1849 casos em 2012 para 2004 no ano passado.

Também as amputações de membros inferiores atribuíveis à doença passaram de 1493 para 1556. Ainda assim, neste campo é positivo o facto de se estarem a fazer mais das chamadas amputações “minor” (apenas parte do pé) do que as chamadas “major” (todo o pé ou membro inferior). “Aqui na associação temos uma consulta do pé diabético e temos cerca 150 a 200 doentes todos os dias que passam por aqui e não me lembro de uma amputação nos últimos anos. É a prova de que com cuidados frequentes podemos poupar os pés e os dedos”, ilustrou Gardete Correia.

Também o secretário de Estado Adjunto da Saúde, presente na apresentação do relatório, reconheceu que “na área da alimentação e do desporto ainda temos muito a fazer” para reduzir o número de novos casos de diabetes, mas congratulou-se com o caminho que tem sido trilhado pelos cuidados de saúde primários e pelo coordenador do programa nacional que se prepara para lançar iniciativas com os municípios. Ainda assim, Fernando Leal da Costa assumiu que falta aumentar a cobertura da população portuguesa no que diz respeito aos médicos de família, pois a “franja da população sem médico tem um risco maior de ter uma doença não diagnosticada”. “Não é só numa lógica curativa, é essencialmente numa lógica preventiva”, reforçou.

Os dados mais positivos do relatório dizem precisamente respeito aos cuidados primários, que em 2013 registaram mais 8,8% de doentes (62 mil pessoas). Ao mesmo tempo que este acompanhamento de proximidade aumentou, os internamentos de pessoas com diabetes nos hospitais são cada vez mais curtos e, pela primeira vez, mais de metade dos doentes controlados nos centros de saúde tinham as análises ao sangue para controlo da diabetes dentro dos níveis ideiais.

O relatório apresenta também os custos para o Estado desta doença e que ascenderam em 2013 a 1% do produto interno bruto, representado 10% do total de toda a factura na saúde. Ao todo, a diabetes tem custos directos anuais para o país de 1250 a 1500 milhões de euros. A despesa só com medicamentos nas farmácias chegou no ano passado aos 226 milhões de euros, 18 milhões dos quais foram pagos directamente pelos utentes. Em 2012 os doentes pagaram 17 milhões e o Serviço Nacional de Saúde 191,8 milhões. “Só podemos reduzir os custos se conseguirmos reduzir o número de novos casos da diabetes, o que não se tem verificado nem em Portugal nem em lado nenhum o mundo”, comentou Leal da Costa.

“O custo médio das embalagens de medicamentos da diabetes mais que duplicou o seu valor nos últimos dez anos”, salienta o documento, já que apesar de estarem a ser consumidos mais genéricos também surgiram no mercado muitos dos chamados medicamentos inovadores, que são mais caros. Em 2004 uma embalagem custava em média 10,8 euros e agora custa 23,6.

Na maior parte dos países desenvolvidos, a diabetes já é a quarta principal causa de morte e, de acordo com a Organização Mundial de Saúde, poderá conduzir a uma redução da esperança média de vida, pela primeira vez em 200 anos. Em 2013 a diabetes provocou a morte de 5,1 milhões de pessoas, o que significa que a cada seis segundos morre uma pessoa por diabetes. Em Portugal, em 2012, último ano com dados disponíveis, foi responsável pela morte de 4867 pessoas.

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