Fraude do BPN foi construída “com à-vontade cirúrgico e com gente de poder envolvida”
Na sua primeira entrevista após ter deixado o DCIAP, Cândida Almeida acusa o ex-procurador-geral da República de não a ter apoiado quando mais precisou.
Admitindo ter sido apanhada de surpresa por não ter sido reconduzida 12 anos depois de ter criado o departamento para investigar a criminalidade organizada, Cândida Almeida acusa o ex-procurador-geral da República, Pinto Monteiro, de não a ter apoiado quando mais precisou, “nomeadamente na altura do Freeport”.
“No que se refere ao DIAP, nunca pressionou. Não me deu foi o apoio que eu achava que merecia. Essa, digamos, é a minha mágoa. Agora, pressionar, nunca. Nem ele queria saber conteúdos de processos, é preciso que se diga”, refere na entrevista, em que diz ter-se sentido pressionada, sim, mas “pelos grandes interesses opacos e sem rosto, esse tal poder do crime organizado”.
O Freeport foi, de resto, o caso que mais a marcou depois do das FP-25. “Aquilo que lá estava, por mais que se fizesse, não permitia outra solução que não o arquivamento”, continua a defender Cândida Almeida, garantindo que não beneficiou de forma nenhuma José Sócrates neste processo.
Colocada em Março no Supremo Tribunal de Justiça, onde ocupa agora o lugar de procuradora-geral adjunta, pelas mãos de Cândida Almeida passou já um habeas corpus destinado a tirar Isaltino Morais da cadeia — um caso cuja investigação pertenceu também ao DCIAP. “Lutei sempre com a falta de meios necessários para tornar o departamento mais ágil, mais capaz de responder em cima do acontecimento”, recorda.
Dos seus planos para o futuro faz parte um projecto na área da defesa dos direitos humanos e da cidadania: “Vamos defender os cidadãos anónimos contra esses interesses que não têm rosto. Vamos lutar pelos direitos humanos […], contra a corrupção, o branqueamento de capitais, a fraude”.